Apesar da boa disposição ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa e das gargalhadas largas perante uma piada do Presidente da República sobre o tempo cujo gancho era “é uma vergonha”, André Ventura ainda não enterrou o machado de guerra com Ferro Rodrigues. O Chega apresentou um voto de condenação no Parlamento contra o presidente da Assembleia de República devido às suas declarações ao Expresso, na semana passada.
“Tenho que parar isto a tempo e não tolerarei tentativas de desprestigiar as instituições democráticas, seja o Governo, os partidos, o Parlamento ou o Presidente da República”, disse o presidente da AR, acusando ainda o deputado do Chega de “querer passar todos os limites”.
O voto do partido de André Ventura (um de quatro, na realidade) irá a plenário esta sexta-feira de manhã - isto é, se o presidente da Assembleia da República consentir. Como é prática e enquanto não há alterações ao regime de votos, cabe ao presidente da AR aprovar a discussão dos votos apresentados por todos os partidos políticos. Neste caso particular, contudo, será o visado do voto, Ferro Rodrigues, a ter de dar a aprovação para a votação.
Segundo o Chega, todos os deputados, desde que não infrinjam o regimento da Assembleia da República, “gozam de total liberdade para expressar as suas opiniões seja qual for o vocabulário utilizado, desde que, não seja objectivamente ofensivo da honra ou bom nome de qualquer um dos deputados ou da própria Assembleia da República”.
Na fundamentação do voto, Ventura questiona Ferro sobre o que quer o responsável político “parar a tempo”. “Será a actividade parlamentar do Senhor Deputado André Ventura? Será a livre e legítima expressão do Senhor Deputado André Ventura? E que dizem os restantes Senhores deputados desta câmara? Estarão eles disponíveis para ver a sua liberdade de actuação nesta assembleia cortada por Sua Excelência o Senhor Presidente da Assembleia da República?”, lê-se.
Na terça-feira, após uma audiência no Palácio de Belém com o Presidente da República, o deputado do Chega exigiu um pedido de desculpas de Ferro Rodrigues. “Nós achamos que temos razão. Acho que a maior parte do país acha que temos razão. Não queremos eternizar o conflito. Eu, como comentador televisivo e político, várias vezes me excedi. O que fiz? Pedi desculpa. Voltamos à mesma, temos uma legislatura para trabalhar. Custa assim tanto pedir desculpa? Eu já pedi várias vezes”, afirmou.
Ferro Rodrigues não respondeu a Ventura. O voto de condenação do Chega é datado de 18 de dezembro, ou seja, quarta-feira, um dia depois do encontro com o Presidente da República.