Jazz foi encontrada já desidratada por um agricultor que a entregou a um orfanato de animais, na África do Sul. À chegada, a pequena girafa foi “adoptada” por Hunter, um cão que lá vivia. Há poucos dias a girafa começou a perder a força nas pernas, e acabou por morrer de hemorragia cerebral. Hunter nunca a abandonou. Ao contrário da mãe que, segundo a equipa do orfanato, poderá ter suspeitado da doença do seu bebé. “Agora sabemos que Jazz não teve uma mãe má. Ela apenas sabia.” É possível que Hunter também tenha tido essa intuição. Mas terá optado pelo comportamento contrário. A história prova que a capacidade de amar dos cães não é um exclusivo que reservam aos humanos. É uma consequência provável de um gene que a ciência já identificou.
E é por isso que a história de Jazz e Hunter poderá não surpreender os cientistas que investigam o comportamento do melhor amigo do homem. Isto porque os cães podem não ser apenas o melhor amigo do homem. Mas o melhor amigo. Sem distinções.
Experiências feitas neste campo revelaram que se um cão for criado com uma ovelha será o melhor amigo da ovelha. Mas se, em vez da ovelha, o cão for criado com um pinguim será então o melhor amigo do pinguim. Aquilo que os torna especiais, e um sucesso surpreendente na história da evolução, poderá não ser a capacidade de compreender os humanos, mas a de ter emoções e amar. Até porque a ligação entre pessoas e cães não é inata.
Sem contacto com humanos, os cães podem ser animais tão selvagens quanto outros, concluiu uma equipa de investigadores da Universidade Estatal do Arizona. É a exposição dos cães aos humanos ou a outros seres vivos que os torna dóceis, ainda que a facilidade com que criam relações tenha a ver como uma predisposição natural para uma hipersociabilização.
Alexandra Horowitz, presidente do departamento Dog Cognition Lab no Barnard college, não duvida: são as emoções, muito mais elaboradas do que em outros animais, que os diferencia. E a equipa de Bridgett vonHold, bióloga molecular na Universidade de Princeton, identificou genes nos cães que nos humanos podem ser associados com a síndrome Williams-Beuren, uma desordem genética que tem, entre outras consequências, a de uma excessiva pulsão para fazer amizades. E é por isso que quando se colocam cachorros em contacto com outras espécies, estes podem desenvolver relações muito profundas, que irão manter ao longo da vida.
Não se sabe, contudo, se a existência destes genes nos cães é uma decorrência de uma história iniciada há mais de 15 mil anos, quando os humanos começaram a alimentá-los.