“Muito da saúde respiratória tem de passar pela regulamentação da exposição a produtos químicos no local de trabalho”, defende António Jorge Ferreira. O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, que participava na conferência organizada pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, mostrou-se preocupado com a quantidade de casos de asma ocupacional e cancro pulmonar profissional, doenças tradicionalmente associadas à profissão de mineiro. No entanto, sublinha, estas condições médicas já não são encontradas apenas neste tipo de atividade profissional e dá como exemplo o fumo do tabaco.
“O tabaco não pode ser esquecido. Curiosamente, um dos principais agentes de cancro profissional pulmonar a nível mundial é o fumo do tabaco passivo”, afirma, explicando que tem especial prevalência em países onde ainda não é proibido fumar no espaço de trabalho. Ema Leite, responsável de saúde ocupacional do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, alerta, contudo, ser necessário separar os conceitos de doença profissional, diretamente causada pela função desempenhada, da doença agravada pelas condições laborais e da doença relacionada com o trabalho. Isto porque “é raro termos um trabalhador que esteja exposto a um só risco”, sendo fundamental perceber, nestes casos, se existe uma relação direta entre a condição médica e a função desempenhada – seja por via de exposição a substâncias químicas perigosas ou outras.
Além da adequação do ambiente laboral – como a eliminação ou selagem dos materiais tóxicos -, é importante que as empresas apostem na “informação e formação dos trabalhadores” para que assumam uma postura defensiva e preventiva no exercício de funções. Uma vez identificada uma doença relacionada com a profissão de um trabalhador, nem sempre a resolução ou minimização do problema depende exclusivamente da empresa. A especialista recorda que, apesar da legislação obrigar a que o empregador requalifique o colaborador, nem sempre o próprio doente aceita mudar de função ou de emprego, algo que as organizações devem levar em conta em cada caso.
A estratégia de prevenção, com a qual os intervenientes na conferência concordam de forma unânime, permitiu, de acordo com Ema Leite, diminuir o índice de asma ocupacional “na maioria dos países europeus”, ainda que exista muito por fazer. Sara Freitas, pneumologista, explica que os métodos passaram pela mudança dos materiais utilizados, embora defenda ser necessário “alargar a nossa visão para todas as fontes de exposição” de forma a reduzir, ao máximo, o impacto na saúde dos trabalhadores. “A prevenção é a pedra basilar” para diminuir as doenças respiratórias em ambiente laboral, garante.