De forma curta, a conclusão é esta: não há um gene ‘gay’, nem é possível prever se uma pessoa será homossexual ou heterossexual com base na sua informação genética. Mas, para aqui chegar, uma equipa internacional de investigadores estudou quase meio milhão de pessoas, naquele que foi esta quinta-feira apresentado na revista “Science” como o maior trabalho alguma vez realizado sobre a influência da genética no comportamento sexual.
De acordo com os dados apresentados, foram identificadas apenas cinco variantes no genoma humano como estando claramente associadas a pessoas que tiveram relações homossexuais. Os autores sublinham, no entanto, que a influência dessas variantes se revela mínima, já que esse comportamento é também influenciado por fatores ambientais.
“Neste caso, a palavra ambiental significa apenas que não são influências genéticas. Não está necessariamente relacionado com educação ou cultura”, precisou o genetista Brendan Zietsch, diretor do Centro de Psicología e Evolução da Universidade de Queensland, Austrália. “Podem ser efeitos biológicos não genéticos ou o ambiente prenatal no útero”, acrescentou, explicando que a investigação não permitiu conclusões sobre estas influências especificamente.
Para o estudo foram utilizadas duas bases de dados: uma do organismo inglês Biobank, com informação sobre 410.000 pessoas com idades entre os 40 e os 70 anos; e outra correspondente aos arquivos da empresa americana 23andMe sobre 68.500 pessoas, com uma idade média de 51 anos. A pesquisa envolveu genetistas, psicólogos, sociólogos e especialistas em estatística de diferentes centros, como da Universidade de Cambridge, Instituto Broad do Instituto Tecnológico de Massachusetts e da Universidade de Harvard.
Os investigadores referem ainda ter verificado “uma correlação genética” entre o comportamento homossexual e alguns traços de personalidade, como o sentimento de solidão, abertura a novas experiências e hábitos definidos como ‘de risco’, como o tabagismo e o consumo de marijuana. Observaram também uma correlação genética com alguns problemas de saúde mental. Mas frisam que “a causalidade não ficou clara”. Uma possibilidade é a de o estigma associado à homossexualidade “provocar ou exacerbar problemas de saúde mental”, como explicou Zietsch.
Ao apresentar o trabalho, a equipa sublinhou que as conclusões dadas a conhecer “não devem de forma alguma ser interpretadas de modo a inferir que as experiências de indivíduos LGBTQ são erradas ou um distúrbio”. “Na verdade, este estudo reforça as provas de que um comportamento sexual diverso é uma parte natural da variação humana geral”, pode ler-se.