Os sindicatos dos motoristas – Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) – não chegaram a acordo com o Governo esta segunda-feira. Mantém-se assim o braço de ferro e o pré-aviso de greve, por tempo indeterminado, com início marcado para o próximo dia 12 de agosto. Os sindicatos guardam agora uma contraproposta da ANTRAM até sexta-feira.
A reunião durou quatro horas e revelou poucos avanços. O SIMM, pelo porta-voz, Anacleto Rodrigues, disse à saída da reunião que vai “aguardar tranquilamente” e que, “se houver alguma proposta da ANTRAM naqueles pontos-chave”, vão levá-la a plenário no dia 10 de agosto, altura em que vão estar reunidos com os associados. “Só sábado se vai decidir se a greve é mantida ou desconvocada”, explica Rodrigues.
O porta-voz do SIMM enumerou ainda alguns pontos que deseja ver tratados nesta discussão, nomeadamente quanto à retribuição base e ao trabalho de cargas e descargas, que, diz, não lhes diz respeito fazer tal atividade, que representa para a economia uma perda de “três mil postos de trabalho”.
Pedro Pardal Henriques, porta-voz do SNMMP, diz que não há vontade de rever salários e condições de segurança. “Já que a ANTRAM não aceita qualquer proposta, viemos mostrar ao senhor ministro as nossas propostas, e as condições das quais não podemos abdicar para que seja desconvocada esta greve. Só poderemos recuar havendo claramente havendo uma decisão quanto a quatro ou cinco pontos", resumiu, preferindo não adiantar quais são os pontos mencionados. "Aguardamos uma resposta da ANTRAM até sexta-feira.”
A reunião entre os sindicatos dos motoristas e o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, começou por volta das 11h30 na sede do ministério sem a presença da Associação Nacional dos Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), que recusou negociar sob a ameaça de uma greve. Nenhum dos intervenientes quis prestar declarações à entrada da reunião.
Mas, segundo já tinha avançado antes o vice-presidente e porta-voz do SNMMP, Pedro Pardal Henriques, o encontro – que foi solicitado pelos dirigentes – servia para apresentar um conjunto de propostas ao Governo com vista a uma solução para evitar a greve, com destaque para um contrato coletivo de trabalho com a duração de seis anos e aumentos graduais de 50 euros.
Sindicato Independente desconhece proposta
Os representantes dos patrões – que incluem a ANTRAM e a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS) – deveriam reunir-se, por sua vez, com o Governo na parte da tarde, pelas 15h30. Mas o encontro entre os sindicatos e os membros do gabinete de Pedro Nuno Santos acabou por prolongar-se após a pausa do almoço, obrigando a reunião entre os patrões e o Executivo a ser adiada para terça-feira.
Pelo meio, Pedro Pardal Henriques proferiu breves declarações à imprensa, avançando que o encontro com o Governo estava a “correr bem”, ainda que Anacleto Rodrigues, dirigente do SIMM, se tenha colocado à margem da proposta pelo SNMMP, admitindo mesmo que nem tinha conhecimento da mesma. “Não estamos vinculados à proposta. O dr. Pardal Henriques já nos disse que ia explicar depois como funcionava”, explicou o responsável na altura. Sinais contraditórios que mostravam diferentes perspetivas sobre a reunião.
Nos últimos dias, o Governo tem feito grande pressão junto de motoristas e patrões para chegarem a acordo de forma a evitar a paralisação, que terá fortes consequências ao nível do abastecimento de combustíveis e de mercadorias. Associações de vários sectores manifestaram-se preocupadas face à eventual greve, alertando para o impacto que a paralisação terá na economia e na imagem do país.
ANTRAM critica “chantagem e pressão inaceitáveis”
No sábado, a ANTRAM disse em comunicado que perante a “chantagem e pressão inaceitáveis” dos motoristas a associação “não está disponível para negociar”. Já o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, advertiu que a greve causará “consequências irreparáveis”, apelando a um entendimento entre patrões e sindicatos.
Perante a possibilidade de a greve avançar, Pedro Nuno Santos aconselhou no passado dia 24 de julho para os portugueses começarem a abastecer as suas viaturas para “se precaverem”.
Durante a paralisação a partir da próxima segunda-feira será prioritário o abastecimento de “portos, aeroportos e postos de abastecimento das empresas que têm por objeto a prestação de serviço público de transporte de passageiros, rodoviários, ferroviários e fluviais, assim como estruturas residenciais para pessoas idosas, centros de acolhimento residencial para crianças e jovens, estabelecimentos de ensino, IPSS e Santa Casa da Misericórdia”, segundo o Governo.