Valdemar Alves não foi acusado de qualquer crime pelo Ministério Público porque durante a investigação argumentou que tinha delegado as responsabilidades de gestão do material combustível no vice-presidente da Câmara, José Graça. Mas na fase de instrução, Ricardo Sá Fernandes, advogado dos familiares de uma das vítimas, juntou ao processo atas de reuniões que provavam que o presidente da Câmara tinha conhecimento e responsabilidade nas decisões que foram tomadas.
Agora, o juiz de instrução Gil Vicente decidiu que há provas suficientes para levar Valdemar Alves a julgamento pela prática de sete crimes de homicídio e quatro de ofensas corporais por negligência. No despacho, o magistrado explica que "Valdemar Alves era Presidente da Câmara, detendo a responsabilidade pela coordenação da gestão e manutenção dos espaços florestais daquele município (...) bem como providenciar pela criação e manutenção da faixa de gestão de combustível" e "não tendo procedido, por si ou por intermédio de outrem, ao corte das árvores e vegetação (...) e conhecendo a obrigatoriedade de o fazer, agiu sem o cuidado devido" e não tomou medidas "que deveria ter adoptado para evitar os resultados que podia e devia prever, mas não previu - a morte das pessoas".
Valdemar Alves era presidente da Câmara Pedrógão na altura dos incêndios. No mandato anterior, o autarca tinha sido apoiado pelo PSD mas nas últimas eleições foi reconduzido no cargo, já depois da tragédia, com o apoio do PS. É também arguido no processo da reconstrução por suspeita de fraudes e irregularidades na reconstrução das casas danificadas pelo incêndio.