Espalhar conhecimento, combater estereótipos, lançar pontes, é a missão a que se propõe o Observatório do Mundo Islâmico, um projeto novo apresentado esta terça-feira, em Lisboa. “O desconhecimento leva ao ódio, o ódio leva à violência, e o ciclo não acaba”, diz ao Expresso a investigadora Maria João Tomás, vice-presidente da direção. “Tem de haver conhecimento para haver entendimento.”
O Observatório pretende focar-se em “todos os países onde o Islão seja religião maioritária, religião oficial ou tenha uma representatividade importante”, explica a professora da Universidade Autónoma.
Em causa está, pois, uma longa faixa geográfica contígua que se estende de Marrocos ao Paquistão, abarcando vários outros países como o Bangladesh, a Indonésia — o país muçulmano mais populoso — e a Nigéria. Esta área é “uma importante fonte de História, que nos ajuda a compreender aquilo que somos hoje”, realça Maria João Tomás.
Um dos tópicos a serem trabalhados é a questão das minorias no mundo islâmico, nomeadamente as cristãs. O Observatório pretende também contribuir para causas. “Uma delas, que para mim é prioritária, prende-se com a excisão genital feminina, que não é uma prática islâmica, não consta do Corão.”
As religiões como arma política
O Observatório contará com o contributo de um leque alargado de pessoas — académicos e investigadores, militares, personalidades da sociedade civil, membros da Comunidade Islâmica de Lisboa. “É um projeto transversal a todas as áreas do conhecimento”, diz a professora. “Vamos dinamizar para que haja uma aproximação à sociedade civil.”
Na prática, este projeto passará pela realização de conferências, debates, discussões públicas, workshops por todo o país – numa fase inicial, as iniciativas serão mais concentradas em Lisboa, Porto, Algarve e Alentejo.
O projeto passa também pela criação de um portal na Internet que disponibilize informação que vá ao encontro das dúvidas mais complexas ou mais básicas dos portugueses. “O que é o Ramadão?”, é apenas um exemplo. “Para além dessa informação básica e simples, o Observatório quer ir um pouco mais longe e contribuir para que não sejam feitas más interpretações do Islão.”
A apresentação do Observatório do Mundo Islâmico decorre esta terça-feira, a partir das 17 horas, no Auditório 1 da Universidade Autónoma de Lisboa. A sessão incluirá a realização de dois debates sobre religião — “As Religiões como instrumento político” e “O mundo islâmico, religião e poder”. Porque, como refere Maria João Tomás, “as religiões têm sido utilizadas ao longo da História como instrumento político” para acicatar ódios e justificar guerras.