Faz ou não sentido aumentar o salário mínimo nacional? Que impacto é que a medida tem nas empresas e na criação de emprego? E qual a melhor forma de compensar um aumento que é superior à inflação e nem sempre é acompanhado pela produtividade? Estas questões têm dominado a política nacional e esta manhã, no dia em que o Parlamento vai chumbar a descida da TSU, a SIC Notícias foi para a rua ouvir patrões de vários sectores.
As declarações de Nuno Carvalho foram feitas neste contexto. Não são especialmente longas, nem sequer uma grande novidade, mas a defesa de um mercado de trabalho mais liberal e elástico provocou enorme celeuma nas redes sociais.
Três horas decorridas sobre o direto da SIC Notícias, o comentador Daniel Oliveira fez um detalhado post sobre as declarações de Nuno Carvalho. "Note-se que 25% da massa salarial implica uma percentagem absurda de trabalhadores (perdão, "colaboradores") com salários abaixo de 557 euros (perdão, em "regime de transição")", é o arranque do curto e incisivo texto. "Não me espanta que quem baseie o seu negócio nos salários baixos considere que a grande prioridade dos portugueses não é o aumento do salário mínimo (que só interessa aos políticos, claro), mas a liberalização dos despedimentos, o fim dos limites legais ao horário de trabalho e uma redução considerável do pagamento de horas extra, não penalizando as empresas que contratam menos trabalhadores do que aqueles que necessitam para funcionar", prossegue o colunista do Expresso e coautor do "Eixo do Mal".
As reações propagaram-se no mural de Daniel Oliveira, quase todas a concordar com a posição do comentador, mas também com algumas a chamar a atenção para o ponto de vista dos patrões. "Você, provavelmente nunca empregou ninguém e não sabe a quantidade de postos de trabalho que não se criam devido à rigidez da legislação laboral nem a quantidade de trabalhadores que não são devidamente compensados hoje para evitar custos amanhã", afirmava Luís Paulo Pinto. Daniel Oliveira respondeu, dizendo que "não percebo é porque é que, depois de várias alterações laborais para facilitar o despedimento, isso nunca teve o efeito prometido na criação de emprego. Só o tornou mais precário".
A polémica, naturalmente prolongou-se ao Twitter. Mário Azevedo Lopes, blogger no Insurgente, saiu em defesa da Padaria Portuguesa, pelo número de empregos que cria, pela inovação e por ter muitos funcionários pagos acima da concorrência. Outros anunciaram baicotes à cadeia de padarias e outros ainda ficaram escandalizados com o que se paga em impostos sobre o trabalho em Portugal, para um retorno alegadamente baixo.
A polémica não é nova, divide economistas, políticos, comentadores, a população em geral. Mas, a verdade, é que uma simples declaração de um dos patrões da Padaria Portuguesa fez renascer o debate sobre o salário mínimo de forma mais eficaz que qualquer político, com o vídeo a ser visto milhares de vezes.