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Música

A sublime inquietação de Rodrigo Leão

Rodrigo Leão regressa, rodeado de família e amigos, com aquele que diz ser o seu disco “mais português”, feito de canções de resistência, reflexão e esperança

Num disco que assume ter sido “inesperado”, Rodrigo Leão está mais acompanhado do que nunca
Alfredo Cunha

Se há algo a que Rodrigo Leão nos habituou foi a esperar o inesperado. O músico e compositor lisboeta, que esteve na génese de duas das bandas mais marcantes e influentes da música portuguesa das últimas quatro décadas, Sétima Legião e Madredeus, atira-se com a mesma garra a paisagens sintetizadas ou aos seus gostos mais clássicos, tendo criado, no decorrer de um longo e prolífero percurso, álbuns preciosos: do místico “Ave Mundi Luminar”, a estreia em nome próprio nesse longínquo ano de 1993, ao experimental “A Vida Secreta das Máquinas”, de 2015, passando por um emocionante “A Mãe” (2009), o expansivo e incontornável “Cinema” (2004) ou as memoráveis bandas sonoras do filme “A Gaiola Dourada” (2013) e da série documental “Portugal, Um Retrato Social” (2007). Dois anos depois de um fecundo diálogo com a filha Rosa em “Piano para Piano”, regressa com uma nova guinada para território inexplorado. “O Rapaz da Montanha” é um disco de comunhão, para o qual convidou não só a mulher, os filhos e os amigos mais próximos, como também músicos com quem queria trabalhar há muito tempo. “Quando digo que é um disco inesperado para mim é porque há 10, 20 anos não me passaria pela cabeça fazer um álbum no qual estivesse tão presente a influência do universo musical dos anos 70 em Portugal”, assume Leão ao Expresso, “é evidente que essa música marcou parte da minha adolescência. Génios como o José Mário Branco, o Zeca Afonso, o Fausto são compositores que admiro muito. O meu público está habituado a não saber bem o que vai sair dos meus trabalhos. Apesar de eu próprio, muitas vezes, também não saber, há alguma unidade no meio destas influências todas que estão na minha música, e que vão desde o tango à pop britânica e à música clássica. Acho que é saudável”.