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Livros: Annie Ernaux, a filha que está viva

Aos dez anos, Annie Ernaux ouviu a mãe partilhar em voz baixa, com uma cliente, o grande “segredo” que nunca lhe foi revelado, nem sequer na idade adulta: a existência de uma irmã mais velha, morta aos seis anos, de difteria, dois anos e meio antes do seu próprio nascimento. É esta “narrativa”, história de uma ausência, que Ernaux resolveu explorar aos 70 anos, quando uma editora a convidou a dirigir uma carta a alguém com quem nunca se tivesse correspondido

Annie Ernaux
Francesca Mantovani/Éditions Gallimard

Aos dez anos, durante umas férias, enquanto brincava nas traseiras do café-mercearia da família, Annie Ernaux ouviu a mãe partilhar em voz baixa, com uma cliente, o grande “segredo” que nunca lhe foi revelado, nem sequer na idade adulta: a existência de uma irmã mais velha, morta aos 6 anos, de difteria, dois anos e meio antes do seu próprio nascimento. É esta “narrativa”, história de uma ausência (e dos ecos desse vazio), que Ernaux resolveu explorar aos 70 anos, quando uma editora a convidou a dirigir uma carta a alguém com quem nunca se tivesse correspondido. Escrever à irmã implicava enfrentar um espaço de negação.