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Exposições: Um fotógrafo inglês no Verão Quente de 1975 em Miragaia

Em agosto de 1975, o fotógrafo britânico Humphry Trevelyan visitou o Porto para fixar os ares do tempo de um país em revolução. 50 anos depois, o seu olhar espelha-se no Centro Português de Fotografia

Garotos jogam à bola no bairro portuense de Miragaia, em pleno Verão Quente de 1975
Humphry Trevelyan

Olhar para Miragaia, no Porto, à distância de meio século através das lentes do fotógrafo britânico Humphry Trevelyan não é apenas viajar no tempo até um passado já demasiado distante de todos os códigos visuais proporcionados pelos dias hoje vividos. Num primeiro olhar, aquela Miragaia de ruas quase vazias ou, quando muito, ocupadas por crianças ou pelas brincadeiras de jovens adolescentes desapareceu. O olhar cúmplice do fotógrafo não escamoteia a pobreza intrincada naquela vivência numa comunidade muito marcada pela presença do rio e por algum acantonamento, responsável pela criação de uma identidade muito própria. Essa Miragaia já não existe. Hordas de turistas povoam as ruas, e a pobreza evidente de 1975 esconde-se agora em nichos ofuscados pelo negócio do alojamento local ou da restauração turística. Até por isso, esta exposição de Humphry Trevelyan é um documento extraordinário. Como aquela imagem com vista para o Largo da Praia, com duas adolescentes debruçadas sobre um corrimão. Uma fixa a objetiva do fotógrafo com olhar penetrante. A outra olha para o largo, apenas com três pessoas sentadas na soleira de uma porta e um homem encostado a uma parede. Naquele mesmo largo, uma outra foto coloca em destaque um mural onde alguém escreveu: “Morte ao fascismo e ao imperialismo”, tudo em maiúsculas. Num outro plano da mesma imagem, um grupo de jovens joga à bola.