Pode a experiência do isolamento confluir para a experiência da colaboração? Pode, como o mostra “Twin Islands” que resulta da convergência de duas residências artísticas em contextos insulares: a da artista portuguesa Sara Bichão, que passou um mês encerrada num farol na ilha francesa de Ouessant, e a da artista francesa Violaine Lochu, que aconteceu em São Miguel num contexto mais aberto. Para Sara Bichão, essa foi uma experiência de solidão (intermitentemente pretendida e involuntária) que a colocou frente a frente com a dureza dos elementos, a necessidade de uma disciplina comportamental mas também de afinamento da atenção (às ondas, aos pássaros, ao vento perturbador).
Se numa primeira exposição, Bichão utilizou materiais e objetos ali encontrados para criar esculturas manipuláveis, aqui ela joga com o espaço áspero das carpintarias para gerar estruturas que se sujeitam a esticamentos, sobrevoam o espaço, espreitam da parede ou vagueiam pelo chão. Na verdade, são composições cumulativas de objetos resultantes de meditações posteriores sobre a experiência de solidão que sugerem corpos, animais ou paisagens sem nunca abandonarem uma condição tendencialmente informe, mesmo quando resgatam simbologias de origem religiosa.