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Cinema

2024 na Cultura: os 25 melhores filmes do ano

Jonathan Glazer levou o espectador ao lado de fora dos muros de Auschwitz no sufocante “A Zona de Interesse”, um filme que exibe o horror da banalidade do Mal. É o melhor filme de 2024, liderando uma lista de escolhas que conta com o ‘oscarizado’ “Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet, e com filmes superlativos de Kaurismäki, Coppola e Guadagnino, entre outros

A família de Rudolf Höss, comandante do campo de concentração de Auschwitz, vive um quotidiano idílico, paredes-meias com o mais infame centro de extermínio do regime nazi

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ZONA DE INTERESSE
De Jonathan Glazer
Com Christian Friedel, Sandra Hüller, Medusa Knopf

O muro, coroado a arame farpado, fica logo ali, ao pé da casa, do outro lado do jardim de flores, onde avulta uma pequena piscina, a estufa, uma horta, o orgulho da senhora Hedwig Höss. O topo dos edifícios do ‘Lager’ ainda se vê, tal como as altas chaminés, mais atrás, de onde sai fogo e fumo, 24 horas por dia, sem descanso. Há, contudo, um ruído constante, um cabo rumor de fornos e fragores ocasionais, gritos, tiros, imprecações. Afinal de contas, trata-se de uma instalação fabril em laboração contínua e enorme produtividade, assegurada pela gestão afanosa de Rudolf Höss, o SS-Obersturmbannführer, comandante do KL Auschwitz, incansável a encontrar métodos de aumentar a capacidade de receber, gasear e incinerar seres humanos. A introdução do gás letal Zyklon B, de efeito rápido, a ele se deve. Os superiores hierárquicos só podem estar contentes: aquele é o mais eficiente campo de extermínio da rede que os nazis organizaram para dar cumprimento à Solução Final emanada do próprio Führer, Adolf Hitler. Quem também está radiosa de felicidade é Hedwig, que nunca pensou poder chegar àquele patamar de existência, com uma bela casa, cinco filhos robustos, serviçais vários, um marido importante e benesses colaterais, casaco de peles, vestidos, artigos de que pessoas chegadas ao campo já não precisam. E sabem onde se pode encontrar um ou outro diamante? Em pastas de dentes onde “eles” – “muito espertos” – os escondem. Em tudo, uma vida normal, em convívio com outras mulheres de oficiais, filhos na escola, lazeres de verão, passeios de barco no rio. Claro, há pequenos contratempos, como quando a água do rio fica poluída com cinzas ou a mãe de Hedwig, chegada da Alemanha para visitar a filha, acaba por se ir embora de noite, sem sequer se despedir, porque intui o horror ao olhar pela janela do quarto. Fora esses parcos inconvenientes, tudo bem.