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Cinema: “A Torre Sem Sombra”, de Zhang Lu, é um portento de delicadeza

O primeiro filme de Zhang Lu a estrear-se em Portugal é um pequeno monumento de melancolia

No filme do realizador chinês Zhang Lu, o elenco dá corpo a duas histórias paralelas, muito elipticamente montadas

“Bem-vindo ao Inverno / O mundo está coberto de gelo e neve”. É com estes versos que arranca — em tom elegíaco — a canção popular chinesa que, algures a meio deste novo filme de Zhang Lu, é ebriamente entoada por um grupo de antigos colegas de liceu que se reuniu para jantar. Entre eles, está o protagonista: Gu Wentong, um crítico gastronómico de meia-idade residente em Pequim que, um par de cenas depois, entra num orfanato onde uma turma de crianças ensaia uma canção que, ainda que por interpostas vozes, parece constituir o eco diferido da sua transformação numa simples memória de si mesmo (e diga-se que “A Torre Sem Sombra” está cheio de ecos e discretas correspondências). Citando: “Lembramos os dias da relva verde/ E da luz quente da Primavera/ Agora, só temos os dias frios e sombrios do Outono/ Ventos tempestuosos e chuva torrencial/ Tudo o que vemos mudou completamente/ Tudo está irreconhecível/ Olhamos para trás com uma mágoa insuportável”.