No centro do novo filme do irlandês Neil Jordan está uma personagem literária com a qual os cinéfilos já se terão certamente cruzado no passado. Falamos aqui — e como o título indica — do detetive privado Philip Marlowe, que Raymond Chandler criou em 1939, e que, no cinema, foi interpretado por Humphrey Bogart e Elliott Gould em duas obras notáveis, respetivamente: “À Beira do Abismo”, de Hawks, e “O Imenso Adeus”, de Altman. Embora muito diferentes, essas duas interpretações (e os trabalhos que as sustentavam) tornavam-nos cúmplices de uma figura de traços bem vincados, que se destacava sobretudo pelo seu perfil melancólico. Ora, um dos aspetos mais salientes do ensaio de Jordan — que adapta um romance publicado em 2014 por John Banville — reside no facto de nos colocar em face de um Marlowe que não tem traços de todo, que é apenas o suporte vazio da ação, ou, quando muito, um vago alter ego do próprio cineasta (já lá iremos). Mas vamos por partes.
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