No princípio era a guerra. Não há, mas podia haver um narrador que começasse “Nayola” nesses termos, porque, de facto, tão longe quanto a vista alcança, tão longe quanto as três personagens centrais lembram, a guerra era a realidade. Primeiro a luta de libertação contra os portugueses, depois o conflito fratricida a esquartejar Angola. Décadas de combates, mutilados, mortos, massacres, desalojados, miséria, horror. Guerra de onde não se volta, de onde não há verdadeira saída para os que a fizeram. À partida, uma peça de teatro, escrita por José Eduardo Agualusa e Mia Couto, a chegar às mãos do cineasta português José Miguel Ribeiro, um dos nomes maiores do nosso cinema de animação. “Foi um acidente”, contou-me ele uma tarde destas. “Conheci o Jorge António nos Caminhos do Cinema Português e passado algum tempo ele convidou-me a ir a Angola fazer um workshop de animação. Eu fui, e quando me vinha embora ele passou-me a peça para ver se me interessava fazer alguma coisa a partir dali. E interessou.”