O secretário-geral do PCP acusou hoje Chega e PS de fazerem uma "novela" sobre o próximo Orçamento do Estado, quando "farão tudo" para que o documento passe por alegadamente corresponder aos seus interesses.
Questionado sobre as recentes declarações do PS e do Chega pondo-se de parte da aprovação do próximo orçamento, Paulo Raimundo considerou que estes partidos "farão tudo para que o orçamento passe", mas que lhes "convém que não seja uma passadeira vermelha, que haja aqui uma certa novela, uns gritos, uns empurrões e tal".
À margem de uma visita ao Hospital Garcia de Orta, Setúbal, o líder do PCP criticou a atenção dada a estas negociações, apontando que não foi dado a conhecer ainda nenhum detalhe sobre o conteúdo do Orçamento do Estado para 2025.
"Uns saem, outros entram, outros enchem o peito, outros mandam cartas, outros escrevem respostas, outros dizem que vão sair de coisas onde nunca estiveram... É uma novela. E pronto, nós entretemos-nos com a novela", atirou Raimundo.
Para o secretário-geral do PCP, o país terá "um orçamento no seguimento do programa e das opções do Governo", que, alegou, responderá aos interesses dos grupos privados de saúde, da grande distribuição e da banca e não aos interesses de quem trabalha.
Esta sexta-feira, durante a Academia Socialista,a líder parlamentar do PS avisou que o partido não contribuirá para a aprovação de um Orçamento do Estado "de direita" e que só vai permitir que este "Governo ultraminoritário continue" se as suas políticas forem boas.
Já o presidente do Chega, André Ventura, anunciou no mesmo dia que o partido se retira das negociações para o Orçamento do Estado para 2025 e que "com toda a probabilidade votará contra" o documento.
PCP acusa Governo de "desmantelar" Serviço Nacional de Saúde
O secretário-geral do PCP acusou ainda o Governo de acelerar o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), tornando "mais difícil a vida dos utentes", propositadamente para entregar serviços ao privado.
Paulo Raimundo afirmou que o Governo pretende acelerar "o desmantelamento do SNS", ao "fatiar as peças" do mesmo "e entregar partes daquilo que é a resposta do SNS ao setor privado".
"Do ponto de vista do Governo, não está a falhar nada. Está tudo certo. Não há médicos, não há urgências da obstetrícia abertas, não há urgências pediatria abertas, não há urgências geral abertas, não há nenhum problema", atirou o líder do PCP.
Raimundo disse que a única solução que o Governo oferece aos cidadãos é o recurso ao setor privado da saúde e que falta coragem ao executivo para "de uma vez por todas deixar de enfiar milhares de milhões de euros de recursos públicos nos que fazem da doença um negócio".
O secretário-geral defendeu ainda que há falta de "coragem política" para investir em mais infraestruturas no SNS, exemplificando com o caso do concelho do Seixal onde, disse, "não há nenhuma razão para não construir o hospital".
Raimundo afirmou a necessidade de serem dadas melhores condições de trabalho aos profissionais de saúde, acusando ainda o Governo de "estancar carreiras e apertar salários para que muitos dos médicos, enfermeiros e técnicos não tenham outra opção que não seja ir para fora de Portugal ou ir para o setor privado".
"Os privados não precisam de mais médicos. Quem precisa de mais médicos é o SNS. E as pessoas, os utentes, aqueles milhares de utentes que continuam sem médico de família, em particular aqui na península de Setúbal, sabem, por experiência própria, que o SNS é o único que não nos pergunta quanto é que tem na conta bancária para os socorrer (...) e nós precisamos de salvaguardar isto", acrescentou.
O PCP insistiu no pedido de explicações à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, afirmando que esta não pode "despachar para o diretor executivo do SNS a responsabilidade" das dificuldades de acesso à saúde.
"O diretor executivo da comissão executiva do SNS tem uma tarefa distinta, concreta. Na prática é um alto quadro da administração pública. A responsabilidade política é da ministra. A ministra, perante este facto, perante este facto, tem que dizer qualquer coisa. São 800 mil pessoas na península de Setúbal (...). Alguém pode dormir descansado com uma situação destas?", questionou Raimundo.