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Santos Silva vai à rentrée do Bloco falar sobre "combate à extrema-direita"

Santos Silva foi uma das vozes críticas da geringonça e tem defendido a “autonomia” do PS em oposição a entendimentos à esquerda. Agora, o antigo ministro socialista irá falar sobre o “combate” à extrema-direita no primeiro dia do Forúm Socialismo

Matilde Fieschi

Alertou para os perigos da aproximação do PS à restante esquerda logo após as legislativas deste ano e chegou a pedir “maior compromisso” entre os partidos como condição para a formação de uma nova geringonça, em 2018, quando António Costa se preparava para renovar os votos com o Bloco de Esquerda e o PCP. Desde 2015, Augusto Santos Silva posicionou-se como uma das vozes críticas da união entre as esquerdas e isso tem sido visto como um dos obstáculos a uma eventual candidatura presidencial. Quase dez anos depois, o antigo presidente da Assembleia da República (AR) é convidado do Fórum Socialismo, o evento que marca a rentrée do Bloco e que este ano vai decorrer em Braga.

Depois dos seus últimos anos no Parlamento terem ficado marcados pelos conflitos com o Chega – os confrontos diretos com André Ventura chegaram a fazer com que os deputados da direita radical se dirigissem a Santos Silva como “presidente das restantes bancadas” –, o socialista vai à rentrée dos bloquistas para falar sobre o “combate” à extrema-direita. A palestra, intitulada “Como mobilizar e unir a cidadania no combate à extrema-direita”, irá decorrer no primeiro dia oficial da rentrée bloquista, no dia 31 de agosto (no dia anterior há um pré-arranque com uma sessão que junta Catarina Martins e Irene Montero, eurodeputada espanhola que perdeu para Roberta Metsola a eleição para a presidência do Parlamento Europeu).

A relação entre Santos Silva e a esquerda à esquerda do PS sofreu alterações ao longo do tempo, embora o socialista tenha sempre regressado à posição pela defesa da “autonomia” do PS. Ao fim dos primeiros quatro anos de geringonça, o socialista divergiu de António Costa defendendo que uma reedição apenas seria possível se houvesse um “maior compromisso” entre os partidos, incluindo um alinhamento em “política externa e europeia”. Com as posições eurocéticas do PCP, por exemplo, a contrastar com as do PS, o comentário foi visto como uma posição contra a manutenção do acordo – Manuel Alegre chegou a dizer que o socialista estava a passar uma “certidão de óbito à geringonça”. Nessa altura, o próprio António Costa interveio contra o então ministro dos Negócios Estrangeiros ao dizer que o que “corre bem” não deve ser “perturbado nem interrompido”.

A verdade é que não houve um “maior compromisso” e o segundo governo de Costa apenas durou dois anos, com o Bloco, primeiro, e depois o PCP a romperem com os socialistas em discussões e votações orçamentais.

Em 2021, após o chumbo do Orçamento do Estado para 2022 que levou a eleições antecipadas, Santos Silva surgiu pela primeira vez a alinhar com a ideia de um novo acordo entre PS, Bloco e PCP. Em entrevista à TVI24, admitiu a possibilidade de um cenário “estruturalmente parecido” com o da geringonça.

A maioria absoluta socialista dispensou tal cenário e a sua queda inesperada devido à Operação Influencer atirou Santos Silva de volta para uma posição pouco favorável a acordos à esquerda. Ainda durante a luta pela liderança do PS, o sociólogo anunciou o apoio a José Luís Carneiro por considerar que este tinha “melhores garantias de preservar a autonomia política do PS” em oposição a Pedro Nuno Santos que representava a ala mais à esquerda entre os socialistas. Em entrevista ao Expresso, voltou a insistir na necessidade do PS “manter a sua autonomia”. Já com Pedro Nuno Santos eleito secretário-geral do PS e com as eleições legislativas de 2024 a darem a vitória à AD, num artigo de opinião no Público, o socialista repetiu que o PS deveria “preservar a identidade” e defendeu caminhos de diálogo com o PSD em áreas como a justiça, a União Europeia ou as finanças públicas.

As posições de Santos Silva vão em contraciclo com as do Bloco que tem tentado renovar os entendimentos à esquerda tendo inclusive convocado o PS, PCP, Livre e PAN para reuniões em busca de “convergências”. Na mira dos bloquistas estão as eleições autárquicas e a criação de uma frente de esquerda capaz de ganhar Câmaras, nomeadamente, a de Lisboa liderada por Carlos Moedas. A presença de Santos Silva na rentrée bloquista poderá ser uma forma de aproximação.

Nas palavras do Bloco, a presença de “pontos de vista” divergentes é “muito importante” porque é “da discussão desses vários pontos de vista que eventualmente se chega a soluções cada vez mais consensuais”, disse a antiga deputada Isabel Pires ao Público acerca dos convidados para o Fórum Socialismo.

Além de Santos Silva, o encontro nacional do Bloco irá contar com outros nomes fora do partido como Daniel Oliveira, ex-dirigente bloquista, Leonor Caldeira, jurista, ou Joana Bordalo de Sá, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam). Apesar das tentativas de contacto, o Expresso não obteve resposta de Santos Silva até à publicação deste artigo.