A inspiração começa por ser António Costa. Não só na política económica das “contas certas” e no reforço do salário mínimo (prometendo reduzir em quatro anos o diferencial em relação ao salário mínimo praticado na vizinha Espanha), como também na ideia de lançar uma nova “agenda para a década”. Foi o que Costa fez em 2015, antes de chegar ao Governo, com um grupo de “sábios”, e é isso que se propõe a fazer José Luís Carneiro se chegar a secretário-geral do PS. Mas é no capítulo da governabilidade que Carneiro descola do atual primeiro-ministro, autor da inédita solução da geringonça, e, refugiando-se na história do PS, assume um rumo próprio: quer o PS como partido charneira, promotor de “consensos alargados” à direita para reformar o país, e não fecha a porta a soluções de viabilização de governos minoritários do PSD. A ideia não é fazer “alianças”, mas sim ter um “desígnio estratégico”.
Na moção intitulada “Por todos para todos”, que vai ser entregue esta quinta-feira de manhã no Largo do Rato, o ministro e candidato à liderança do PS não fecha portas a cenários de governabilidade que passem pela eventual viabilização de um governo minoritário do PSD, afirmando que o PS “sempre contribuiu para a estabilidade e para a governabilidade do país” e que “sempre honrou as suas alianças”. Ainda assim, Carneiro esclarece que “não confundimos alianças com desígnios estratégicos”.
“Nunca foi o PS que rompeu os seus entendimentos com outros partidos. O PS sempre honrou as suas alianças e sempre contribuiu para a estabilidade e para a governabilidade do país. Por isso, quanto maior é a força eleitoral do PS, mais garantida fica a governabilidade”, lê-se no texto coordenado pelo atual secretário de Estado da Presidência, André Moz Caldas, que cita Mário Soares (“o nosso combate – aprendemo-lo com Mário Soares – é pelo socialismo em liberdade”) para posicionar o PS no espectro da “esquerda democrática” e para o definir como “partido charneira, de pontes e de diálogo”, que deve manter a sua “autonomia estratégica” intacta.
“O PS tem de manter a sua autonomia, com vista a assegurar o seu papel histórico, promovendo entendimentos tanto à esquerda como à sua direita, buscando consensos alargados em áreas estratégicas para o desenvolvimento da democracia e o país”, lê-se ainda no capítulo introdutório.