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Montenegro não se desvia um milímetro da “estratégia política” sobre Chega. E não quer “um milímetro de dúvida” sobre Tutti Frutti

Líder do PSD não tem “nada a acrescentar agora” relativamente a eventuais entendimentos com partido de Ventura. Em entrevista à RTP1, sacudiu a pressão sobre as europeias: “Perder por dois ou três pontos não é um mau resultado”

Luís Montenegro, presidente do PSD
ESTELA SILVA/Lusa

Foi uma entrevista-relâmpago que não chegou à meia hora de duração e serviu para Luís Montenegro insistir em não dizer Chega e para clarificar que uma derrota nas eleições europeias não significa que deixará a liderança do PSD. A demarcação relativamente ao partido de André Ventura não teve esta segunda-feira novos dados na entrevista que concedeu à RTP1. “Já clarifiquei muito bem as condições para formar governo”, disse, insistindo que não será primeiro-ministro se não ganhar as eleições legislativas. E que já deu a conhecer os “princípios” que o “norteiam”, sabendo-se “o que está excluído” do seu projeto.

Face à insistência do jornalista, apontou ao PS: ninguém pergunta a António Costa se governará em caso de nova derrota nas urnas ou se reeditará uma ‘geringonça’. “Sou muito mais claro” do que o primeiro-ministro, sublinhou. Quanto a eventuais entendimentos com o Chega, nada de novo. “Já respondi. Não tenho nada a acrescentar agora. Tenho a minha estratégia política e vou segui-la”, atirou.

Pouco mais de duas horas depois de anunciar que o PSD retirara a confiança política ao deputado Joaquim Pinto Moreira, arguido na Operação Vórtex, Montenegro voltou a distinguir as dimensões individual e política. Ou seja, se for essa a sua vontade, o deputado poderá continuar na bancada parlamentar, mas deixa de “exteriorizar” a posição do partido.

Em relação à Operação Tutti Frutti, em que o deputado Carlos Eduardo Reis é citado, o líder do PSD afirmou não conviver bem com “a dúvida da autenticidade do processo eleitoral” – daí ter anunciado horas antes uma investigação à escolha dos candidatos para Lisboa nas eleições autárquicas de 2017. E virou novamente o jogo para os socialistas: “O PS também deve aclarar a situação. Não quero ter um milímetro de dúvida, assim o PS faça o mesmo.”

Montenegro confessou-se “surpreendido” com as revelações feitas na semana passada numa série de reportagens da TVI/CNN Portugal. Além de Carlos Eduardo Reis, também o presidente da Junta de Freguesia da Estrela, Luís Newton, e o antigo deputado Sérgio Azevedo foram citados, tendo sido intercetadas escutas e comunicações que apontam para um alegado “pacto secreto” entre o PSD e o PS para cada partido manter a liderança de determinadas juntas de freguesia da capital nas autárquicas de há seis anos.

O líder social-democrata tentou igualmente sacudir a pressão das europeias do próximo ano, vistas como decisivas para a sua liderança. Sim, é verdade que irá sujeitar-se à interpretação dos resultados, mas tal não significa que se perder, abandona a liderança. “Perder por dois ou três pontos não é um mau resultado”, contemporizou.

Numa entrevista de balanço do primeiro ano à frente do PSD – ganhou as diretas a 28 de maio do ano passado, tendo sido entronizado líder a 3 de julho no Congresso do Porto –, Montenegro assegurou que a alternativa que o seu partido representa “está a ser cada vez mais bem acolhida, como dizem os estudos de opinião”. E recordou que “o ponto de partida era uma diferença de 14 pontos percentuais” face ao PS, quando agora os dois partidos surgem empatados ou o PSD ligeiramente à frente.

Fugiu duas vezes à pergunta sobre a ausência de uma alternativa política de direita na avaliação de Marcelo Rebelo de Sousa, respondendo à terceira para dizer que não está “dentro da cabeça do Presidente da República”. Pelo meio, foi desviando a conversa para o Governo – “perdeu autoridade política”, “foi inoperante” e “deixou-se enredar nos casos” –, e sublinhou: “Eu quero ganhar as eleições, não as sondagens. A única alternativa de um governo novo é o PSD.”

Questionado sobre se o seu partido sempre avançará com um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à atuação do Serviço de Informações de Segurança no caso Galamba, Montenegro revelou que o PSD irá dirigir até quarta-feira “perguntas diretas ao primeiro-ministro”. Embora não excluindo a possibilidade de uma CPI, clarificou que “devemos esgotar com prudência todas as possibilidades de esclarecimento”, uma vez que as ‘secretas’ tratam de matéria sensível.