Já lá vão os tempos em que a taxa de inflação superava os 10% em Portugal. Os preços, medidos no indicador do Instituto Nacional de Estatística (INE) que abrange um conjunto representativo de bens e serviços, já não sobem tão rápido como antes. Em janeiro, a inflação portuguesa acelerou para os 2,3%, pouco acima dos 2% de referência estabelecidos pelo Banco Central Europeu (BCE) como desejáveis para a inflação de médio-prazo.
Houve uma subida face à variação anual de dezembro, é certo; mas tal deveu-se, segundo o INE, à subida dos preços da eletricidade e ao fim da medida que isentava de IVA um conjunto de bens essenciais.
Taxa de inflação em Portugal
Variação homóloga, em percentagem
Trajetória semelhante teve a taxa de inflação dos bens alimentares não-transformados. Os preços desta gama de produtos, que agrega bens como peixe e carne crus, legumes e frutas não cozinhados, aumentaram, em média, 3,12% em janeiro comparando com os preços de janeiro de 2023.
Em dezembro do ano passado, a inflação destes produtos foi de 1,98% - e o INE atribui este aumento, entre dezembro e janeiro, da taxa homóloga em parte ao fim da medida “IVA Zero”, repondo-se, no início do ano, a cobrança deste imposto num cabaz de 44 produtos alimentares essenciais.
Mesmo assim, apesar deste aumento da taxa, uma inflação de 3,12% nos bens alimentares não-transformados representa um enorme abrandamento do ritmo de subida dos preços. Isto é, continuam a subir, mas muito mais devagar.
Há um ano, por esta altura, o INE traduzia num número o que os portugueses já sentiam na carteira em cada ida à praça ou ao supermercado. Em janeiro de 2023, os preços destes bens custavam mais 18,49% do que em janeiro de 2022.
O pico da inflação alimentar alcançar-se-ia em fevereiro, com uma subida homóloga de 20,09% - e a partir daí começou a tendência de desinflação.
Taxa de inflação dos produtos alimentares não-transformados
Variação homóloga, em percentagem
Os preços destes alimentos não-processados sobem e descem com mais facilidade do que outro tipo de bens alimentares por estarem diretamente expostos a fatores ambientais e geopolíticos. Os preços da energia, que começaram a subir logo em 2021 e que dispararam com a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, tiveram efeito imediato nos custos da produção agrícola, custos esses transportados mais tarde para o preço de venda dos alimentos.
A guerra encareceu também, e de forma súbita, o preço dos cereais e das oleaginosas devido à quebra dos vastos fornecimentos provenientes do chamado “celeiro da Europa”; preços esses que entretanto corrigiram em baixa.
O fator climático, o que tem impacto mais óbvio no sucesso ou fracasso das campanhas agrícolas, é cada vez mais imprevisível devido às alterações climáticas. Exemplo disso é o efeito que a seca prolongada, e as más produções que se seguiram, teve no preço da azeitona nos mercados, que se fez notar meses mais tarde no preço do azeite.
Os preços dos produtos transformados (que passam por processamentos em fábricas), por sua vez, são mais rígidos e demoram mais tempo a registar correções.
Feitas as contas, com base nos dados do INE, os preços dos bens alimentares não-transformados em janeiro deste ano estavam 32% acima dos preços médios em janeiro de 2020, o último mês livre dos efeitos da pandemia da covid-19.