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Educação: qualificações escalam, resultados internacionais vacilam, professores batem o pé

Os indicadores relativos à qualificação dos portugueses continuam a melhorar, apesar do sobressalto com o aumento do abandono escolar no pós-pandemia. O grande desafio para os próximos anos continuará a ser atrair para a carreira docente milhares de jovens e profissionais que assegurem a substituição de outros tantos milhares de professores que estão e vão continuar a reformar-se. E fazer com que os resultados dos alunos voltem a subir nas avaliações internacionais

PAULO CUNHA/LUSA

A percentagem de jovens entre os 25 e os 34 anos sem ensino secundário era de 33% em 2015 e desceu para metade em 2022. E, segundo os dados relativos a 2022/2023, nunca tantos alunos estiveram inscritos no ensino superior ao mesmo tempo, com mais de metade da população com 20 anos a frequentar uma universidade ou politécnico.

O aumento de qualificações que se vem verificando de forma acentuada nas duas últimas décadas é visível em todos os indicadores que se analise e permitiu aproximar o país dos níveis médios europeus e, nalguns casos, até superá-los.

Foi o que aconteceu com o abandono escolar precoce (população entre os 18 e os 24 anos que abandonou os estudos sem concluir o ensino secundário), com uma descida muito significativa e já abaixo da meta dos 9% estabelecidos como valor máximo pela União Europeia para 2030. Se no início do século, a percentagem em Portugal de abandono escolar estava próxima dos 44%, em 2023 fixou-se em 8%.

ABANDONO ESCOLAR PRECOCE

% da população entre os 18 e os 24 anos

O único senão é que, pela primeira vez nos últimos sete anos, a taxa subiu face ao ano anterior. O ministro da Educação, João Costa, justificou o aumento com o facto de os dois anos anteriores, marcados pela pandemia, terem sido “atípicos, tanto no abandono escolar como nas taxas de sucesso”, tendo ambos melhorado em 2021 e em 2022 e “piorado” em 2023.

Já no ensino superior, registou-se no último ano letivo um recorde de 446 mil inscritos, entre cursos técnicos superiores, licenciaturas, mestrados e doutoramentos. E o número de estrangeiros que escolhem uma instituição de ensino portuguesa para fazer parte ou a totalidade de um curso superior também tem vindo a aumentar: duplicou em seis anos e os 75 mil inscritos representam já quase 17% dos matriculados.

INSCRITOS NO ENSINO SUPERIOR


Descidas nos testes internacionais

Mas se as qualificações dos portugueses têm aumentado de forma consistente, já os resultados dos alunos nas avaliações internacionais pioraram nos últimos testes. No último TIMMS (Trends in International Mathematics and Science Study), realizado em 2019, os alunos portugueses do 4º ano mantiveram-se acima da média dos países participantes, mas registou-se uma descida significativa na sua classificação. Isto depois do brilharete alcançado em 2015, quando conseguiram melhores resultados do que os colegas finlandeses. A Ciências, os resultados já tinham baixado em 2015 e voltaram a cair em 2019, ainda que de forma estatisticamente irrelevante. O desempenho está agora na média internacional.

Já no PISA (Programme for International Student Assessment), cujos resultados foram divulgados no final do ano passado, registou-se uma quebra inédita nos desempenhos dos alunos. Ainda que Portugal se tenha mantido na média às três literacias testadas de três em três anos (Matemática, Leitura e Ciências), tal como no exercício de 2018, e que a quebra tenha sido generalizada entre os países da OCDE, os resultados dos alunos portugueses caíram significativamente mais do que a média a Matemática e Leitura. Além disso, no PISA de 2015, os jovens de 15 anos que realizaram estes testes ficaram acima da média da OCDE em cada uma das três literacias.

EVOLUÇÃO DOS RESULTADOS DOS ALUNOS PORTUGUESES DE 15 ANOS NOS TESTES PISA

Em pontos

Mas um dos maiores problemas do sistema educativo e que está longe de ser um exclusivo nacional tem a ver com a atratividade da carreira docente.

Na última década, caiu o número de jovens inscritos em cursos superiores na área da Educação (nota-se agora nos dois últimos três anos já uma inflexão desta tendência), mas os que estão atualmente a ser formados, nomeadamente nos mestrados em ensino, não chegam de todo para suprir as necessidades do sistema e que todos os anos deverá perder para a reforma uma média de 3450 docentes por ano, até 2023.

Diplomados em cursos na área da Educação


Segundo os números compilados por Arlindo Ferreira, autor do blogue de Educação DeArLindo, o total anula de aposentações de educadores de infância e professores do ensino básico e secundário está a aumentar consecutivamente desde 2019, tendo atingido as 3500 no ano passado. Só no mês de janeiro de 2024, reformaram-se mais de 400 e estima-se que este ano o total ultrapasse os 4700.