Dois dias depois da noite eleitoral, o Bloco de Esquerda convidou os restantes partidos à esquerda para “analisar o resultado das eleições”, “debater elementos de convergência” não só para construir uma “oposição a um governo de direita”, como também para construírem "uma alternativa”. As respostas de PS, PCP, Livre e PAN foram afirmativas. Agora, a primeira das quatro reuniões está marcada para esta quarta-feira, dia 20, com Inês Sousa Real. Ao que o Expresso apurou, ainda não estão marcados nenhum dos outros encontros com os restantes partidos.
Com o convite a partir do Bloco, a reunião entre a líder bloquista e a líder e deputada única do PAN irá decorrer na sede do partido convidado, em Lisboa, pelas 10h30h. Antes deste convite ser lançado, o partido de Mariana Mortágua deixou duras críticas ao partido de Inês Sousa Real pelo entendimento com o PSD-Madeira. A líder bloquista chegou a chamar o PAN de “fraude política” e, durante os debates, acusou Inês Sousa Real de ser “incoerente”. A deputada única retorquiu com ataques às propostas do Bloco que “dificilmente podem sair do papel” por desrespeitarem as leis europeias. Agora, espera-se aliviar o ambiente para procurar as “convergências” entre os dois partidos.
O objetivo dos bloquistas, de acordo com fonte do partido, é reunirem com os partidos em ordem crescente, o que significa que o próximo a se sentar à mesa com Mariana Mortágua deverá ser o Livre (o partido à esquerda que mais cresceu passando de um para quatro deputados, mas que se mantém o menos votado à esquerda). Depois, deverá seguir-se o PCP e, por último, o PS. A expectativa dos bloquistas é que a reunião com Pedro Nuno Santos aconteça apenas depois de fechadas as avaliações internas – o PS tem Comissão Nacional marcada para este sábado, dia 23.
Um dos pedidos do Bloco para estas reuniões era que se realizassem antes da tomada de posse dos novos deputados, que poderá ser entre o final de março e o início de abril. O que significa que os restantes encontros deverão realizar-se já nas próximas semanas.
A vitória magra da AD não garantiu uma maioria à direita sem o Chega (PS, BE, PCP e Livre juntos têm 90 deputados e AD e IL 87), o que fez soar os alarmes à esquerda. Mesmo com o PS a declarar derrota logo na noite eleitoral, nem toda a esquerda perdeu a esperança de impedir uma liderança de Luís Montenegro. O Livre acenou com a possibilidade de um governo minoritário de esquerda, o Bloco não foi tão longe, mas pediu para se manterem abertas as “portas do diálogo” à esquerda. Através destas reuniões, o Bloco espera formar uma ‘geringonça’ de oposição que mostre uma esquerda unida e capaz de entrar em jogo ao primeiro deslize da direita democrática.
Apesar dos votos da emigração ainda não estarem fechados, o Bloco pareceu estar em sintonia com o PS e acreditar que a AD se manterá como o partido mais votado e, por isso, aquele que deverá ser convidado a formar governo. Também por isso, o partido de Mariana Mortágua avançou com as audições ainda antes dos resultados serem conhecidos, algo que deverá acontecer sexta-feira, dia 22, segundo Fernando Anastácio, porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE).