Legislativas 2024

BE prepara oposição e procura "convergência" à esquerda: Mortágua pediu reuniões a PS, PCP, Livre e PAN

Dois dias volvidos desde as eleições e assumindo a vitória da AD, Bloco de Esquerda procura organizar “alternativa de esquerda” que prometeu na noite eleitoral. As “diferenciações não são impeditivas de convergências na oposição”

Noite Eleitoral do Bloco de Esquerda, no Forum Lisboa Discurso de Mariana Mortágua
antonio pedro FERREIRA

Depois da incerteza da noite eleitoral, o Bloco de Esquerda assumiu esta terça-feira a passagem à oposição e a procura de uma “convergência” com os partidos de esquerda. Numa publicação nas redes sociais, Mariana Mortágua afirmou que o partido pediu reuniões ao PS, ao PCP, ao Livre e ao PAN.

“No atual contexto, devem ser mantidas abertas as portas do diálogo e procurar a máxima convergência na defesa do que é essencial”, escreveu, sinalizando a intenção de analisar os resultados e debater as alternativas possíveis para constituir uma oposição a um governo de direita.

Nas redes sociais, o texto é acompanhado por um curto vídeo em que Mariana Mortágua diz que os vários partidos devem procurar convergências após umas eleições que “mudaram a face política do país” e colocaram Portugal “sob o risco de um retrocesso e uma ameaça aos direitos sociais”. “Queremos analisar o resultado das eleições, queremos debater os elementos de convergência, não só na oposição a um governo de direita, mas também na construção de uma alternativa", diz.

Já na noite eleitoral, e falando ainda com base na ideia de que uma vitória do PS seria possível, a coordenadora nacional tinha prometido que o Bloco de Esquerda seria “parte de qualquer solução que afaste a direita do governo”. Mas essa solução não existe matematicamente e uma maioria relativa de esquerda foi afastada pelo líder do PS, Pedro Nuno Santos. Caso uma solução governativa de esquerda não fosse possível, Mariana Mortágua promete ser a “oposição mais combativa à direita”.

Na manhã desta terça-feira, um texto de Luís Fazenda, intitulado “Primeiras notas sobre as eleições” e publicado no Esquerda.net, assumia o segundo caminho. “Um governo à esquerda, sem maioria parlamentar, eventualmente não rejeitado pela AD, só teria pernas para andar, ainda que de base precária, se o PS tivesse vencido as eleições”, escrevia o fundador do Bloco de Esquerda. Neste contexto, o BE “dará corpo a uma oposição popular ao governo da AD”, acrescenta. Em qualquer dos cenários, prometia ser a erguer no país uma “alternativa de esquerda”.

Continuando a narrativa de um crescimento neste resultado eleitoral, o dirigente bloquista argumenta que o facto dos partidos à esquerda terem mostrado “disponibilidade para discutir uma maioria com o PS” permitiu resistir à “chantagem política do voto útil”. Contudo, aponta que essa disponibilidade é conjuntural e não estrutural. “Nenhum dos partidos fará dessa proposta linha geral e intemporal, mas no contexto adverso da relação de forças, com uma viragem à direita muito significativa, é um procedimento necessário.”

Luís Fazenda admite também as divergências entre os partidos da esquerda em várias áreas, da política social à União Europeia. “Essas diferenciações não são impeditivas de convergências na oposição e são importantes para desfazer amálgamas sobre as posições dos partidos”, escrevia 11 horas antes de Mariana Mortágua divulgar que o BE tinha pedido as reuniões com outros partidos.