Exclusivo

Crise política

André Ventura em contradição: primeiro cola-se a Passos Coelho, depois assume chumbar governo PSD

Líder do Chega flutua na estratégia. Primeiro apropriou-se das palavras de Passos Coelho para aparecer como moderado, depois ameaçou chumbar governo PSD

O Presidente do Chega, André Ventura, a chegar às jornadas parlamentares do partido, em dezembro de 2023, para preparar as legislativas de 10 de março de 2024
RUI DUARTE SILVA

André Ventura aposta em agitar as águas à direita. A pouco mais de dois meses das eleições e com o PS com um líder recém-eleito, o líder do Chega pôs o foco no PSD de Luís Montenegro e ao fazê-lo navegou entre duas táticas: ora convertendo-se à moderação, bebendo das palavras de Passos Coelho para pressionar o PSD a um acordo de governação, ora regressando à pele de agitador, ameaçando os sociais-democratas com a rejeição de qualquer governo sem o Chega. O objetivo é fugir ao voto útil que virá do PSD, tentando alargar o espaço próprio e tornar-se demasiado grande para dispensar, correndo o risco, nesse processo, de dar armas aos sociais-democratas para o fazer (ver texto ao lado).

A contradição na estratégia do CH aconteceu no espaço de dias, mas só ficou evidente a meio desta semana: Passos Coelho deixou no ar a ideia de que os sociais-democratas não deveriam fechar a porta ao Chega. Ventura interpretou e focou-se na necessidade de uma base de “maioria de direita” contra o “espaço não socialista”. Ora, a aparente moderação contrasta com outra declaração do líder do Chega, dias antes: o partido vai apresentar uma moção de rejeição caso o PSD vença as eleições e o Chega não faça parte do elenco governativo, garantiu Ventura em entrevista à SIC Notícias — que foi gravada na semana passada, dias antes das declarações de Passos Coelho, mas só foi transmitida esta quarta-feira. “Vai haver votos ao programa de governo [do PSD] porque nós vamos pedi-lo se não formos governo. Se for um governo que não combata a corrupção e que não aumente salários e pensões, é para chumbar”, afirmou Ventura, acrescentando que nesse cenário uma moção de rejeição acontecerá “seja qual for o governo”.