Crise política

Costa está de "consciência absolutamente tranquila”, agradece a "solidariedade", mas pede que falem de políticas e não o defendam

O secretário-geral do PS fez um discurso de cerca de dez minutos na Comissão Nacional do partido e agradeceu as mostras de solidariedade, mas pede ao partido para não atacar a justiça e ganhar as eleições. Ele ajudará o próximo líder e defender-se-á do que houver contra si: “Dos meus problemas tratarei eu”

LUÍS FORRA

António Costa ainda está a fazer o luto ao que lhe aconteceu a sete de Novembro e na intervenção que fez aos socialistas na Comissão Nacional, foi agradecendo as mostras de solidariedade que tem recebido, inclusive públicas, mas pediu ao partido para se unir e ganhar as eleições que nasceram depois de uma crise “irresponsavelmente” criada e concentrar-se menos na justiça.

Numa intervenção à porta fechada, foi dizer aos socialistas que tem a consciência “absolutamente tranquila” e pedir ao PS que não fale tanto de justiça para não cometer os erros do passado “dos meus problemas tratarei eu” e sim falar de políticas. “Agradeço a prova de solidariedade, mas a maior prova é arregaçar as mangas e ganhar as eleições”, disse citado por fontes presentes na reunião. Para Costa, o partido não pode ter medo das eleições legislativas e deve apresentar-se unido.

Perante o partido, quis dizer que vai ficar às ordens do próximo secretário-geral do PS, seja quem for, e que não tomará partido nestas eleições internas. De acordo com várias fontes presentes na reunião, o ainda secretário-geral do PS disse ao partido para não ter “angústia” pela sua saída. E, terá recuperado a frase que disse à entrada no Rato, de que o partido tem bons quadros que “dão 10 a 0” ao líder da oposição, Luís Montenegro.

O elogio a Pedro Nuno Santos e a José Luís Carneiro aconteceu em pacote, sem referir os nomes dos candidatos, disse que tinha trabalhado com os dois “excelentes quadros com enormes capacidades” e que, qualquer que seja o resultado das eleições internas, está no dia seguinte a recebê-lo como militante de base, às “suas ordens” para ajudar quem vencer. De acordo com várias fontes, referiu que se entrou aos 14 anos, não sairá aos 62, mas não referiu o terceiro candidato, Daniel Adrião, que concorreu por três vezes contra si.

Pelo meio, foi defendendo o legado que deixa das “contas certas”, referindo ainda a notação da agência Moodys à dívida portuguesa. Para o ainda primeiro-ministro e secretário-geral do PS, foram os resultados das finanças públicas, associados ao aumento do emprego que permitiram “derrotar a direita” sem com isso, defendeu, ter “sacrificado” o investimento público, referindo, como exemplo o que se passa no orçamento da saúde.

Nessa parte do discurso, em que falou sobre o trabalho que foi desenvolvendo ao longo dos últimos anos, António Costa referiu ainda que foram as contas certas que permitiram ao país recuperar a liberdade de escolhas. O secretário-geral do PS recuperou ainda a dificuldade que foi fazer orçamentos no início do seu Governo, fazendo a ponte entre PCP, BE e a União Europeia, mas que o PS o conseguiu. Por isso, disse, essa dificuldade serve para que o partido reflita sobre as opções que pode tomar. Se pode ter excedente ou “consentir algum défice” para satisfazer as reivindicações de professores e médicos. Este é um debate que está a ser feito dentro do PS entre as duas candidaturas.