Crise política

Pedro Delgado Alves: "Engana-se quem achar que o PSD descartará governar sem o Chega"

O vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Pedro Delgado Alves, apoia Pedro Nuno Santos. O socialista defende, em respostas ao Expresso a perguntas a ambas as candidaturas, que o Ministério Público deveria ter uma “cultura de maior clareza”.

Pedro Delgado Alves, deputado do PS
MANUEL DE ALMEIDA

Pedro Delgado Alves é co-autor da moção estratégica com que Pedro Nuno Santos se irá candidatar à liderança do PS. Em respostas ao Expresso, feitas a ambas as candidaturas, o socialista defende que a “geringonça” mostrou que é possível ter “soluções governativas” com “estabilidade” à esquerda e que dificilmente o PSD, se ganhar as eleições legislativas, dispensará o Chega para governar.

O que o leva a apoiar Pedro Nuno Santos?

Conheço o Pedro Nuno Santos há quase 20 anos, comungando de ideias próximas, soluções e valores. Mas apoio-o também pela sua capacidade mobilizadora e transformadora, disponibilidade para ouvir e seriedade.

Esta crise começou por causa de um processo judicial. A PGR devia dar mais esclarecimentos tendo em conta que a decisão do juiz de instrução reduz substancialmente a gravidade da investigação?

A necessidade de legitimar as instituições perante a comunidade e os cidadãos, com transparência e prestação de contas, não deve ser vista a partir deste caso, e muito menos de uma decisão concreta. No entanto, todos (a começar pelo próprio Ministério Público) teríamos muito a ganhar com uma cultura de maior clareza.

Pedro Nuno Santos disse que o PS não ia passar quatro meses a falar de processos judiciais. Não é hora de o PS falar de justiça?

São duas coisas bem diferentes. Recusar falar em processos judiciais em curso significa respeitar a esfera e o tempo próprio do sistema judicial, bem como não privar os eleitores do debate sobre propostas. Naturalmente, isso não significa que o PS fique impedido de debater e construir propostas para que a justiça funcione melhor, com maior celeridade e transparência.

José Luís Carneiro afirmou que não será por ele que o Chega alcança o poder. O PS deve viabilizar um governo minoritário do PSD?

O que me parece fundamental para que o Chega não se aproxime do poder é um resultado forte e liderante do PS. Como a realidade nos Açores bem demonstrou, engana-se quem possa achar que o PSD descartará governar sem o Chega se esse se apresentar como o caminho mais fácil e com menos cedências, mesmo que contrariando o que disseram em campanha. As vozes que se têm ouvido de militantes de relevo do PSD, infelizmente, mostram que não é um receio teórico.

Se houver maioria de esquerda no Parlamento, mas o PSD for o partido mais votado, o PS admite formar governo?

Em 2015 derrubaram-se as barreiras que impediam o diálogo com os partidos à esquerda do PS, com bons resultados e estabilidade durante 4 anos. Assim sendo, o natural em Portugal, como em todas as democracias, passará por construir soluções governativas que respondam aos problemas das pessoas, que lhes garantam rendimentos, qualidade de vida, proteção social e um futuro para os seus filhos e filhas. já se mostrou que esse caminho pode perfeitamente ser à esquerda, sem qualquer drama (e até com bastante estabilidade).

Admite governar com este Orçamento ou, se Pedro Nuno Santos ganhar as eleições internas e legislativas, considera importante alterá-lo?

A proposta de Orçamento para 2024 revê escalões do IRS com benefício para a classe média, alarga o IRS Jovem, aumenta salários na administração pública, pensões, o RSI e o CSI, cria mecanismos de apoio ao crédito à habitação e ao aumento das rendas, faz subir o abono de família e alarga a gratuitidade das creches. Uma vez aprovado, teremos um quadro orçamental com inúmeras vantagens para as família e empresa, que será um elemento de estabilidade no quadro da crise política, pelo que salvo alguma alteração de circunstâncias, não vejo necessidade de proceder a modificações posteriores.