O PSD quer saber se Mário Centeno foi consultado e “deu anuência” a António Costa para que este o propusesse como substituto no cargo de primeiro-ministro. Mas considera desde já que “o governador não tem a independência que o Banco de Portugal requer”.
A notícia avançada pelo Expresso na quarta-feira, de que Centeno foi proposto ao Presidente da República como solução para segurar a maioria absoluta (que Marcelo não rejeitou logo), foi esta quinta-feira confirmada pelo próprio António Costa. E isso, para o PSD, “é mais uma demonstração, esta mais grave, da falta de independência” do Governador do Banco de Portugal (BdP).
O desafio para que Centeno preste explicações sobre o caso foi feito por Joaquim Miranda Sarmento, que preside à bancada parlamentar do PSD, à saída da Conferência de Líderes no Parlamento. “O Banco de Portugal deve ser independente e imparcial”, avisou Miranda Sarmento, o que, para o PSD, está colocado em causa desde que Centeno foi nomeado governador do BdP, logo após ter saído do cargo de Ministro das Finanças. Centeno foi nomeado em julho de 2020, pouco mais de um mês após ter deixado a pasta das Finanças no Governo.
“Havia um conflito de interesses”, disse Miranda Sarmento, que agora se reforça. “Queremos que Mário Centeno diga se foi com a sua anuência ou não” que Costa o propôs para primeiro-ministro. “Lamentamos profundamente que, se a indicação foi feita e teve a anuência do próprio governador, mostra bem como o governador é um agente político e não tem independência do poder político”.
O PSD vai mais longe e lê o caso Centeno como um sinal da atuação da maioria absoluta e do PS em particular. “O que vemos é que a teia socialista que procura ocupar todos os espaços do Estado e do sector público", tendo “sempre os mesmos protagonistas, as mesmas práticas e os mesmos resultados”.
A posição do PSD não foi isolada. Foi, aliás, seguida por vários partidos que falaram esta sexta-feira no Parlamento. Pela IL, Rodrigo Saraiva criticou a proposta do primeiro-ministro para evitar o o cenário de eleições antecipadas. “É uma espécie de plataforma giratória inaceitável. Só faltava uma solução de secretaria à italiana, mostrando a atitude do PS, que acha que é dono disto tudo, confunde o Estado com o partido”, declarou o líder da bancada liberal.
“Plataforma giratória” foi também a expressão usada pela líder do PAN para falar de Centeno. Aludindo aos “fenómenos da corrupção” e às “portas giratórias”, Sousa Real criticou a sugestão de Mário Centeno para primeiro-ministro.