A agenda de descarbonização de João Galamba na segunda metade de 2019 corria a todo o gás: a 2 de julho daquele ano, o então secretário de Estado da Energia recebia o empresário holandês Marc Rechter, que queria apresentar ao Governo um ambicioso projeto para produzir hidrogénio verde em Sines e exportá-lo para a Holanda. Um mês depois, Rechter reunir-se-ia novamente com Galamba, mas dessa vez também com representantes da Embaixada da Holanda. A 27 de novembro, nova reunião com Rechter. E a 10 de dezembro outra. A ideia de um projeto de grande escala de hidrogénio começava a ganhar corpo. Mas Galamba estava longe de adivinhar que os promissores encontros com o empresário holandês radicado em Portugal seriam o princípio de uma atribulada viagem que o levaria a tornar-se o alvo principal do Ministério Público. O hidrogénio, que entretanto se tornou uma opção central na agenda de descarbonização da Comissão Europeia, transformou-se num caso de polícia.
Na manhã da passada terça-feira, o Ministério Público (MP), auxiliado pela Polícia de Segurança Pública e pela Autoridade Tributária, saiu à rua, numa operação que horas depois levaria o primeiro-ministro, António Costa, a demitir-se. Foram 17 buscas domiciliárias e outras 20 não domiciliárias. De São Bento à Câmara Municipal de Sines, do Ministério do Ambiente ao das Infraestruturas, a ação do MP foi abrangente. No auto de buscas incluía-se “anexos e dependências, armazéns, garagens, parqueamentos, arrecadações, jardins ou logradouros”. E também o eventual arrombamento. E a “administração de substâncias adequadas à neutralização de animais”.