Acabado de chegar de Bruxelas, António Costa foi exercer o seu direito de voto nas eleições diretas do PS e, sem dizer em quem votou, defendeu que o PS precisa de “um novo impulso” e uma “nova energia” para continuar “o que de bom foi feito” e para “corrigir” o que “foi feito mal”. Garantindo que não ficará a dar “conselhos de bancada”, o ainda secretário-geral do PS também se mostrou disponível para dar a sua opinião ao novo líder, se esta for pedida, e deixou claro que não “quer” pôr os papéis para a reforma. “Hei de ter a oportunidade de ter novos trabalhos que me deem gozo”, disse. O seu futuro político não termina aqui - a bola está do lado da Justiça
Afirmando que este é um momento de “viragem de página” no PS, Costa lembrou que fez o que António Guterres fez na sua altura, que foi permitir ao PS preparar novos quadros e garantir uma “transição geracional” cuidada. “Eu sabia que era o último de uma geração, era necessário fazer a transição geracional e, felizmente, o PS tem hoje três candidatos a secretário-geral, dois dos quais com uma experiência extraordinária a todos os níveis, autárquicos e governativos, que em comparação com o partido da oposição dão uma grande confiança aos portugueses”, disse.
Falando sempre na necessidade de dar uma “nova energia” e um “novo impulso” ao PS (pegando em palavras que Pedro Nuno Santos utiliza para se referir à sua própria candidatura), Costa deixou claro que é um “militante disciplinado” e que, por isso, estará no dia seguinte a fazer a campanha que o novo secretário-geral do PS entender que deva fazer. “No domingo às 12h, estarei no Rato para receber o novo secretário-geral e para mostrar todo o meu apoio e solidariedade”, afirmou, mostrando-se disponível para ser e fazer o que o PS entender que é útil que seja e faça. “Deixe-o [ao futuro líder do PS] ter a liberdade de saber se quer contar comigo ou não”, disse aos jornalistas no final da votação.
Uma coisa é certa: Costa assume que não tem “nem idade, nem vontade de pôr os papéis para a reforma". Colocando nas mãos da Justiça o seu futuro político e, com isso, fazendo também pressão para o andamento de um caso que diz que continua a conhecer apenas pela comunicação social, o ainda líder do PS e primeiro-ministro deixou claro que vai continuar a ter militância ativa ("somos cidadãos políticos desde que estejamos conscientes, livres e vivos") e que só não continuará a ter cargos políticos no futuro próximo se a Justiça não esclarecer o seu caso a tempo. “Em termos políticos, logo veremos, porque não depende de mim”, disse, afirmando que espera ainda ter a oportunidade de exercer cargos políticos de que “goste”.
Enquanto a Justiça não esclarecer o seu caso, Costa reserva-se “o direito de se autolimitar no que entender”, mas garante que vai andar por aí. “Não tenho idade nem vontade para pôr os papéis para a reforma, e acredito que hei de ter novas oportunidades de ter novos trabalhos que me deem gozo, como felizmente tive sempre, à exceção de dois anos”, disse. Os dois anos a que se refere foi o tempo em que foi líder parlamentar do PS, o único cargo político de que assumiu publicamente não ter gostado.
Costa votou na sede da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) onde teve de esperar na fila e onde se cruzou com companheiros de partido como Margarida Marques, que foi secretária de Estado dos Assuntos Europeus. Pela mesma hora, também votada no mesmo local, mas noutra sala, o candidato Daniel Adrião. Depois de depositar o seu voto na urna, António Costa passou a pasta e tranquilizou o sucessor: não ficará a dar “conselhos de bancada”, mas dará os conselhos que o seu sucessor entender que deve dar. À saída, depois das declarações aos jornalistas, Costa ainda se cruzou com a mãe, Maria Antónia Palla, que igualmente foi exercer o seu direito de voto enquanto militante do PS.