Após o ataque do Hamas a Israel, os partidos políticos portugueses apressaram-se a condenar os atos terroristas e a demonstrar solidariedade com Israel e ao seu direito de autodefesa. Já o Bloco de Esquerda e o PCP colocaram-se, desde o primeiro momento, ao lado do povo palestiniano, deixando as condenações ao Hamas para segundo plano. Perante a complexidade do conflito, as posições dos partidos suavizaram e o apelo ao respeito dos direitos humanos, de ambos os lados, passou a estar no centro das declarações políticas. “A reação de Israel tem que respeitar escrupulosamente aquilo que é o direito internacional e humanitário. Israel, ao fazer o cerco que está a fazer à Faixa de Gaza, está a violar as normas do direito humanitário”, assumiu António Costa no debate da passada quarta-feira. À esquerda do PS, o foco mantém-se no apoio à Palestina e no apelo ao cessar-fogo. Só o PCP mantém maiores resistências em mencionar diretamente o Hamas, ainda que Paulo Raimundo tenha assumido que é "sempre condenável" qualquer ação contra civis "seja ela do Hamas, seja de quem for".
“O PCP tem uma ligação histórica com a antiga Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que nada tem a ver com o Hamas. E mantém essa coerência, estando pouco preocupado com as perceções sobre isso”, explicou ao Expresso o politólogo António Costa Pinto. Além disso, existem “clivagens antigas” que ainda se refletem na conjuntura atual como o “sentimento anti-imperialista" do PCP em relação aos Estados Unidos, país que, historicamente, sempre apoiou Israel. Esse legado de alianças políticas pode explicar a razão para o comunicado do comité central do PCP condenar, “como sempre”, as “ações de violência que visem as populações e vitimem inocentes”, mas sem mencionar diretamente o Hamas.