Política

Marques Mendes avança com os nomes mais prováveis às europeias: Temido, a "popular", pelo PS; Rui Moreira, o "bom comunicador", pelo PSD

O comentador e conselheiro de Estado Marques Mendes disse, neste domingo, na SIC, que o braço de ferro com os professores não se deve apenas à “competição sindical entre a Fenprof e o Stop”, mas também à “teimosia e intransigência” do Governo. Luís Marques Mendes censurou também o Executivo pela falta de contenção nas opiniões expressas sobre a localização do aeroporto

O antigo ministro e presidente do PSD Luís Marques Mendes debruçou-se, neste domingo, no seu espaço de opinião na SIC, sobre as eleições europeias e a especulação que já se faz em torno dos cabeças de lista dos principais partidos. Para Marques Mendes, “no PS, o nome mais provável é o de Marta Temido”, por ser a “figura mais popular” entre os socialistas. Mas a ministra Ana Catarina Mendes também pode ser opção, considera. “No PSD, o nome mais provável é o de Rui Moreira", atira o social-democrata, justificando que "o presidente da Câmara do Porto é independente, é popular e é bom comunicador”.

Na sua análise política, Marques Mendes refere que as eleições a meio do ciclo governativo não serão fáceis para as duas maiores forças políticas portuguesas. Se o Partido Socialista pode ser penalizado pela insatisfação popular com o Executivo, o PSD tem de se preocupar com o Chega. “Com o Chega, os votos dos descontentes com o Governo dispersam-se mais”, sublinha.

O comentador da SIC e conselheiro de Estado Luís Marques Mendes referiu-se ainda ao “braço de ferro na recuperação do tempo de serviço dos professores”, observando que há duas razões para que a situação se prolongue há tanto tempo. “O ministro [João Costa] diz que a culpa é da competição sindical entre a Fenprof e o Stop. Essa é uma parte da verdade. Mas há outra parte da verdade: a teimosia e intransigência do Governo.”

O social-democrata lamenta que, à pandemia não se tenha seguido um ano letivo de estabilidade e recuperação. Nessa matéria, diz, “foi um ano perdido”. Marques Mendes aponta o recorde atingido este ano: “Só neste ano de 2023, houve 466 pré-avisos de greve. Um recorde. Em apenas meio ano, houve mais greves do que em qualquer um dos anos anteriores. Uma média de 3,6 greves por dia. Um exagero.” Pelas suas contas, “a educação é responsável por 85% das greves no Estado”.

O conflito chegou a um impasse, advogou ainda o conselheiro de Estado. Se o Governo nunca aceitará “dar” aos sindicatos a totalidade do tempo congelado — alegando que isso teria efeitos graves noutros sectores —, só há uma forma de entendimento, vaticina Marques Mendes: “O Governo tem de aumentar um pouco mais o número de anos que aceita recuperar, sem ser a totalidade; e os sindicatos têm de encontrar compensações noutras questões, onde não haja efeito multiplicador na função pública.”

Na sua intervenção de comentário, habitual no domingo à noite, Marques Mendes também criticou a atuação do Governo no que concerne à nova polémica acerca do novo aeroporto de Lisboa. “Na semana passada, foi João Galamba a reprovar a solução Santarém. Esta semana, foi o secretário de Estado João Paulo Catarino a defender publicamente a solução Santarém.” Devido às intervenções conflituantes, os membros do Executivo são aconselhados pelo comentador da SIC a serem mais comedidos. E houve ainda tempo para deixar um recado a António Costa: “Não seria tempo de o primeiro-ministro pôr ordem na casa e dar uma ordem de silêncio?”

Já sobre a controvérsia em torno da Carta Municipal de Habitação e da proposta de Carlos Moedas, reprovada pela oposição, com exceção do PCP, Luís Marques Mendes considera “difícil de compreender” a falta de consenso alargado e o “bloqueio” do Partido Socialista. “A oposição tem discordâncias? Então, deveria ter apresentado as suas propostas alternativas, e o presidente da Câmara Municipal devia ter abertura para as acolher. O que veio a público, porém, é que o PS nem sequer um documento alternativo apresentou.” Como a proposta do autarca Moedas ser ainda um documento provisório, ainda haveria tempo para “fazer o debate público e, entretanto, negociar o documento final”, sustentou Marques Mendes, afirmando que Carlos Moedas “até ganha politicamente com isto”, já Lisboa “perde com estas guerrilhas”.

Marques Mendes dedicou também uma nota negativa ao desempenho do Governo no sector da Saúde. Apesar de admitir que, “na maior parte dos problemas, o atual ministro [Manuel Pizarro] não tem grandes responsabilidades” — por ter assumido o cargo há menos de um ano — e de elogiar “a criação de novas Unidades de Saúde Familiar, que podem garantir médicos de família a mais 250 mil utentes e melhores salários aos profissionais de saúde”, o desempenho do Executivo continua a não agradar ao comentador. “A questão de fundo é outra: o Governo de António Costa não tem um ano de vida. Tem quase oito anos. Os principais problemas estão a agravar-se. Isto é difícil de explicar para quem está há oito anos no poder.” Entre os dados elencados por Marques Mendes, está o aumento do número de utentes sem médico de família, que o Expresso aqui expõe, e o acréscimo de 58 mil utentes em lista de espera num ano.

Para Marques Mendes, o primeiro-ministro — tal como o Presidente da República — agiu corretamente, porém, no momento de responder a Christine Lagarde, que esta semana anunciou novas subidas de juros. Trata-se de uma medida de combate à inflação, mas que foi divulgada de forma “lamentável”, segundo o comentador da SIC. Foi “um discurso incendiário, sem pedagogia e sem sensibilidade social” o da presidente do Banco Central Europeu, que resolveu “acusar os salários de serem os culpados da inflação e pedir aos governos para cortarem nos apoios aos mais fracos”. Luís Marques Mendes acredita que um anúncio feito com tal crueza, e “sem pedagogia”, só gera indignação e reforça os populismos. “O que se esperava do BCE era um discurso pedagógico. A explicar os malefícios de uma inflação alta e prolongada no tempo. Sobretudo para os mais pobres. Ao contrário, o que saiu foi um discurso punitivo. Ao pior estilo da troika.”

“Aqui chegados, só resta um caminho: apoiar os cidadãos mais carenciados”, argumenta o conselheiro de Estado.

No seu espaço dominical na SIC, Marques Mendes elogiou ainda o percurso de Portugal nas políticas de imigração, vincando que, com uma população envelhecida, o país só tem a ganhar em contribuições com a chegada de pessoas estrangeiras e tendencialmente mais jovens.