Política

Marcelo anuncia 10 de Junho em Pedrógão. Costa alerta que "passado corre sempre o risco de se repetir"

“O passado corre sempre o risco de se repetir”, disse António Costa na cerimónia de inauguração do memorial de homenagem às vítimas dos incêndios florestais de 2017. Primeiro-ministro pôs tónica na prevenção e Marcelo anuncia 10 de junho de 2024 nos municípios afetados pela tragédia como “sinal de esperança”

PAULO NOVAIS

Depois de a Associação de Apoio às Vítimas dos incêndios florestais ter dado nota pública da ausência das mais altas figuras do Estado no dia em que se assinalaram 6 anos da tragédia, a 17 de junho, a homenagem aconteceu esta terça-feira com o primeiro-ministro e o Presidente da República alinhados no tom. O memorial projetado por Eduardo Souto Moura serve para “recordar o passado, olhando para o futuro”, deve funcionar como “grito de alerta” e “sinal de esperança”, ao mesmo tempo que deve relembrar todos - o Estado e cada um dos cidadãos - de que a melhor homenagem é a prevenção, para que o passado não se repita.

O risco existe e está lá sempre, foi repetindo António Costa, evitando dar a garantia que todos querem ouvir: que o que aconteceu não voltará a acontecer nunca mais. “Este memorial representa um alerta de que o passado corre sempre o risco de se repetir”, disse o primeiro-ministro na cerimónia de homenagem às vítimas, lembrando que “Portugal é um país particularmente exposto ao risco das alterações climáticas, o que agrava todos os anos o risco de incêndios”.

E repartiu as responsabilidades. Se é “dever do Estado prevenir esse risco e preparar-se ao máximo para o enfrentar”, esse risco elevado também exige “uma mobilização coletiva da sociedade”, para que todos façam a sua parte na prevenção contra os fogos florestais. António Costa lembrou mesmo que 64% dos incêndios ocorridos este ano tiveram origem negligente. “Depende de cada um de nós, individualmente, transformar o risco de incêndio em incêndio efetivo, prevenir e tornar o território mais resiliente e menos exposto ao risco”, disse.

Para Costa, o mais importante do memorial é que sirva de “grito de alerta” para a “consciência coletiva”. Consciência essa que nunca pode deixar de lembrar que “todos temos a obrigação permanente e diária de saber que o risco existe e que o devemos prevenir”. A tónica foi essa: prevenção. Só assim se consegue homenagear as vítimas, disse o primeiro-ministro.

“A maior homenagem que podemos prestar a quem partiu e aos seus familiares, os que sofrem com a dor da saudade e da ferida, é dizer que não esquecemos, mas é sobretudo agirmos sabendo que o risco existe e que temos de trabalhar todos os dias para o enfrentar”, disse.



Marcelo quer 10 de junho em Pedrógão

Alinhado na ideia de que é importante “aprender as lições do passado” e encarar o memorial de homenagem às vítimas como “símbolo da vida” e de esperança, Marcelo Rebelo de Sousa falou a seguir a António Costa para apelar ao Governo (e ao Parlamento) que o acompanhe na ideia de assinalar o Dia de Portugal e das Comunidades, em junho de 2024, nos municípios afetados pelos incêndios florestais de 2017 - numa junção de esforços entre municípios como a que aconteceu este ano no norte do país.

“É preciso dar um sinal de vida, e esse sinal podia ser a preparação, aqui no centro do país, na celebração do dia de Portugal”, disse o Presidente da República, explicando que deixou de fazer sentido que o 10 de junho se celebrasse nas capitais de distrito, fazendo mais sentido que o país político apoveitasse esse momento para olhar para municípios mais pequenos que estão hoje a ter um papel muito importante na “construção do futuro”. “Espero contar com o apoio do Governo e do Parlamento para isso”, reforçou.

Essa foi a “palavra de esperança” que quis deixar às vítimas e familiares de vítimas no dia de hoje. “Os que nos deixaram merecem que esse não seja apenas o dia da celebração de Portugal, mas que seja também a celebração do compromisso de Portugal com a construção de um futuro mais coeso territorialmente. É esse o tal sinal de vida que esta água nos quer transmitir”, disse, referindo-se à obra de Souto Moura, que simboliza, como disse Dina Duarte, da Associação de Vítimas, o contraste com o fogo e o símbolo da vida.

Depois de recordar os fatídicos dias 17 de junho de 2017 e 14 de outubro de 2017, a forma como se coordenou com o primeiro-ministro e como, in loco, assistiu à “impotência” de quem vê “Pedrógão a arder”, Marcelo Rebelo de Sousa pediu que se aprendesse as lições do passado, olhando para o futuro. “Queremos construir um futuro melhor, e tem sido esse o apelo da ministra da Coesão: mais coesão territorial, mais oportunidades económicas, mais criação de emprego”.

Antes do Presidente e do primeiro-ministro, por sua vez, tanto o autarca de Pedrógão Grande como a presidente da Associação de Apoio às Vítimas pediram mais ao poder político: mais medidas para repovoar o território e mais esperança no lugar de memoriais. “A vossa missão é cuidar de Portugal, esse é o vosso desígnio e a nossa esperança. Para que não haja mais memoriais de futuro”, disse Dina Duarte depois de ter recordado o nome de cada uma das vítimas dos incêndios de junho e de outubro nos concelhos vizinhos.