A tragédia não se pode repetir e António Costa teve agenda cheia esta segunda-feira, primeiro dia do estado de contingência, para se certificar de que tudo está a ser feito para prevenir e evitar os incêndios florestais. "É evidente que [o país] está mais bem preparado", disse o primeiro-ministro em respostas aos jornalistas, em Viseu, depois de visitar a Companhia de Ataque Estendido da Unidade de Emergência da Proteção e Socorro. Mas isso só não chega: é preciso que cada um dos cidadãos faça o seu papel e, se for preciso, é preciso reformular os festivais previstos para locais mais propícios à propagação de fogos.
"É evidente que [o país] está mais bem preparado, mas não podemos contar com a preparação de todos os agentes de proteção civil para estarmos nós menos preparados", disse António Costa, dando o exemplo do combate à Covid-19, logo no arranque de 2020: "Quando começou a pandemia ninguém teve dúvidas da qualidade dos nossos médicos e profissionais, e mesmo assim soubemos que tínhamos todos de ajudar, mantendo a distância, usando máscara, desinfetando as mãos".
Agora, exige-se o mesmo: não fazer lume, não trabalhar com máquinas agrícolas, não fazer festivais ou romarias. Segundo Costa, é preferível adiar essas festas, cancelar, ou mudar a localização, mesmo que o setor da animação e espetáculos tenha sido dos mais massacrados nos últimos anos. "Soubemos ter essa sensibilidade para controlar o Covid, temos de fazer o mesmo para controlar os incêndios", apelou, insistindo também na limpeza de terrenos onde o proprietário é o primeiro interessado.
Em causa estão a concentração de motas de Faro, de 14 a 17 de julho, e o festival de música Super Bock Super Rock, previsto para este fim de semana no Meco. A situação de contingência termina às 23h59 do próximo dia 15 de julho, mas pode ser prolongada, atingindo em cheio alguns festivais há muitos marcados. Sobre isso, contudo, o primeiro-ministro não deu mais detalhes.
Questionado sobre os números que apontam para o facto de ainda haver muitos terrenos individuais por limpar, o primeiro-ministro mostrou-se optimista em relação à mudança de mentalidade. "A informação que tive da unidade de emergência de proteção e socorro, e também da conversa que tive com o presidente da câmara [de Viseu] é que tem diminuído o número de autos levantados", disse, lembrando que é a GNR que faz a primeira visita e que identifica os terrenos que têm de ser limpos, e que depois volta a fazer uma segunda visita para ver se a limpeza foi feita. "São cada vez mais raros os casos em que, na segunda visita, o aviso não tenha sido cumprido", disse.
Antes de Viseu, Costa esteve esta segunda-feira reunido com as Equipas de Sapadores Florestais do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, na Lousã, e ainda visitou o Centro de Meios Aéreos da Lousã e um Grupo de Reforço de Bombeiros em pré-posicionamento, bem como reuniu com pessoal da Unidade de Emergência da Proteção e Socorro e do Helicóptero de Coordenação da Força Aérea. De manhã tinha estado ainda na Sala de Operações e Comando da Unidade de Emergência da Proteção e Socorro (UEPS) da GNR, em Coimbra.
Admitindo o desafio exigente dos próximos dias, devido às altas temperaturas e ao risco de incêndio, o primeiro-ministro gostou do que viu: "Senti uma grande consciência do enorme desafio dos próximos dias, mas vi um comando muito coordenado e as entidades bem articuladas umas com as outras, e isso é essencial para fazer a diferença". Ainda assim, apelou ao contributo de cada um. "Só funciona bem se cada um de nós se juntar à equipa", disse, sublinhando que não há incêndios de geração expontânea. É sempre por culpa humana, seja involuntária ou não.