Política

Costa garante que país está "mais bem preparado" para combater fogos, mas admite que festivais podem ter de ser reajustados

No primeiro dia do estado de contingência devido às altas temperaturas e ao risco de incêndio florestal, o primeiro-ministro alerta que festivais previstos para os próximos dias podem ter de ser reajustados. Super Bock Super Bock e concentração de motas de Faro na dúvida

PAULO NOVAIS

A tragédia não se pode repetir e António Costa teve agenda cheia esta segunda-feira, primeiro dia do estado de contingência, para se certificar de que tudo está a ser feito para prevenir e evitar os incêndios florestais. "É evidente que [o país] está mais bem preparado", disse o primeiro-ministro em respostas aos jornalistas, em Viseu, depois de visitar a Companhia de Ataque Estendido da Unidade de Emergência da Proteção e Socorro. Mas isso só não chega: é preciso que cada um dos cidadãos faça o seu papel e, se for preciso, é preciso reformular os festivais previstos para locais mais propícios à propagação de fogos.

"É evidente que [o país] está mais bem preparado, mas não podemos contar com a preparação de todos os agentes de proteção civil para estarmos nós menos preparados", disse António Costa, dando o exemplo do combate à Covid-19, logo no arranque de 2020: "Quando começou a pandemia ninguém teve dúvidas da qualidade dos nossos médicos e profissionais, e mesmo assim soubemos que tínhamos todos de ajudar, mantendo a distância, usando máscara, desinfetando as mãos".

Agora, exige-se o mesmo: não fazer lume, não trabalhar com máquinas agrícolas, não fazer festivais ou romarias. Segundo Costa, é preferível adiar essas festas, cancelar, ou mudar a localização, mesmo que o setor da animação e espetáculos tenha sido dos mais massacrados nos últimos anos. "Soubemos ter essa sensibilidade para controlar o Covid, temos de fazer o mesmo para controlar os incêndios", apelou, insistindo também na limpeza de terrenos onde o proprietário é o primeiro interessado.

Em causa estão a concentração de motas de Faro, de 14 a 17 de julho, e o festival de música Super Bock Super Rock, previsto para este fim de semana no Meco. A situação de contingência termina às 23h59 do próximo dia 15 de julho, mas pode ser prolongada, atingindo em cheio alguns festivais há muitos marcados. Sobre isso, contudo, o primeiro-ministro não deu mais detalhes.

Questionado sobre os números que apontam para o facto de ainda haver muitos terrenos individuais por limpar, o primeiro-ministro mostrou-se optimista em relação à mudança de mentalidade. "A informação que tive da unidade de emergência de proteção e socorro, e também da conversa que tive com o presidente da câmara [de Viseu] é que tem diminuído o número de autos levantados", disse, lembrando que é a GNR que faz a primeira visita e que identifica os terrenos que têm de ser limpos, e que depois volta a fazer uma segunda visita para ver se a limpeza foi feita. "São cada vez mais raros os casos em que, na segunda visita, o aviso não tenha sido cumprido", disse.

Antes de Viseu, Costa esteve esta segunda-feira reunido com as Equipas de Sapadores Florestais do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, na Lousã, e ainda visitou o Centro de Meios Aéreos da Lousã e um Grupo de Reforço de Bombeiros em pré-posicionamento, bem como reuniu com pessoal da Unidade de Emergência da Proteção e Socorro e do Helicóptero de Coordenação da Força Aérea. De manhã tinha estado ainda na Sala de Operações e Comando da Unidade de Emergência da Proteção e Socorro (UEPS) da GNR, em Coimbra.

Admitindo o desafio exigente dos próximos dias, devido às altas temperaturas e ao risco de incêndio, o primeiro-ministro gostou do que viu: "Senti uma grande consciência do enorme desafio dos próximos dias, mas vi um comando muito coordenado e as entidades bem articuladas umas com as outras, e isso é essencial para fazer a diferença". Ainda assim, apelou ao contributo de cada um. "Só funciona bem se cada um de nós se juntar à equipa", disse, sublinhando que não há incêndios de geração expontânea. É sempre por culpa humana, seja involuntária ou não.