Política

Ventura não explica exoneração de chefe de gabinete nem esclarece se mantém confiança política

A primeira grande fratura entre o presidente do Chega e Nuno Afonso ficou exposta no Congresso de Coimbra, em maio de 2021. Na altura, o agora vereador da Câmara de Sintra confessou ao Expresso sentir-se “injustiçado” por deixar de ser vice-presidente do partido. Afirmando ter sido “apunhalado”, acalentava então a ambição de chegar a deputado, o que também não aconteceu. E, mais uma vez, assumiu publicamente o descontentamento por ter ficado de fora das listas

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TIAGO MIRANDA

A exoneração de Nuno Afonso, fundador e militante número dois do Chega, do cargo de chefe de gabinete do partido na Assembleia da República, continua envolta em secretismo. Quando a CNN Portugal avançou com a notícia na noite desta quinta-feira, a assessoria de imprensa adiantou aos jornalistas não ter qualquer indicação sobre uma eventual posição oficial do partido. Ao final da manhã desta sexta-feira, foi anunciada uma conferência de imprensa nos Passos Perdidos, na Assembleia da República, para o presidente do Chega, André Ventura, fazer “um anúncio político”. Horas mais tarde, esse anúncio traduziu-se na divulgação de uma carta enviada ao presidente da Iniciativa Liberal e aos dois candidatos à liderança do PSD para uma plataforma de entendimento à direita “alternativa à governação socialista”.

Questionado pelos jornalistas sobre a exoneração, Ventura disse não querer fazer “muitos comentários” por se tratar de “uma questão essencialmente política”. “Foi falado com o próprio Nuno Afonso ao longo das últimas duas semanas. Foi uma decisão de política interna. Não tenho grandes comentários a fazer”, insistiu, reconhecendo ter sido uma decisão tomada por si e “validada pelo grupo parlamentar”. Quanto à manutenção da confiança política em Nuno Afonso, vereador eleito na Câmara de Sintra, o presidente do partido voltou a ser esquivo. “Tomámos uma decisão relativa ao Parlamento. Para já, não há qualquer pronúncia do partido, minha ou da direção nacional, em relação à participação do vereador”, atalhou, lembrando que a chefia de gabinete é “um cargo de nomeação” e não de “um cargo político efetivo”.

Nuno Afonso também não esclareceu publicamente os motivos por que Ventura decidiu afastá-lo, limitando-se a adiantar à SIC que os militantes do partido merecem uma explicação, que não foi apanhado de surpresa e que a continuidade como vereador do Chega em Sintra depende de ter ou não a confiança política do partido. Um ponto que Ventura não esclareceu quando foi questionado pelos jornalistas.

A primeira grande fratura entre os dois antigos militantes do PSD ficou exposta no Congresso do Chega, em Coimbra, no final de maio de 2021. Na altura, Nuno Afonso confessou ao Expresso sentir-se “injustiçado” por deixar de ser vice-presidente do partido e passar a vogal, adiantando que Ventura poderia ter sido “mal aconselhado”. Afirmando ter sido “apunhalado”, acalentava então a ambição de chegar a deputado, o que também não aconteceu. E, mais uma vez, assumiu publicamente o descontentamento por ter ficado de fora das listas.

O seu afastamento acontece uma semana depois de Manuel Matias ter renunciado ao cargo de assessor político do grupo parlamentar do Chega. Na véspera, a Transparência Internacional Portugal tinha enviado uma carta ao presidente da Assembleia da República, apontando o “caso flagrante” da sua nomeação por ser pai de Rita Matias, deputada eleita pelo partido. Esta sexta-feira, Ventura, que assinou o despacho de nomeação, reconheceu que o afastamento de dois nomes em tão pouco tempo deixa o partido “fragilizado”, adiantando que substituirá ambos no início da próxima semana.