O tema tem marcado a discussão política das últimas semanas e, em particular, as mais de 10 horas de debate sobre o novo programa de Governo, na quinta e sexta-feira: a inflação chegou em força, como combatê-la?
À esquerda, mas também da voz de Rui Rio, António Costa ouviu que à crise de preços, o Governo devia responder com aumentos de salários e pensões, de forma a segurar o poder de compra. Os socialistas fizeram que ‘não’ com a cabeça, alguns deputados, como Carlos Pereira, saíram em defesa do Governo, e agora o primeiro-ministro voltou à carga.
É preciso “não embarcar na ilusão” de que aumentar os salários é uma forma de combate à escalada da inflação, defendeu Costa esta manhã, porque, “se os custos sobem por via da energia”, esse aumento de rendimentos “seria comido pelo aumento dos preços”. “Não é essa espiral inflacionista que queremos alimentar”, vincou, para oposição ouvir.
António Costa falava na abertura da Comissão Nacional do PS, no Hotel Myriad, em Lisboa, onde os socialistas estão reunidos para eleger o novo secretário-geral Adjunto do partido e o Secretariado Nacional. António Costa fez, aliás, questão de agradecer em particular a José Luís Carneiro, que deixa o cargo de adjunto por entrar no Governo (é agora ministro da Administração Interna), onde será substituído por João Torres, ex-secretário de Estado nas pastas do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor. Do Secretariado saem figuras como Graça Fonseca, ex-ministra da Cultura, e Alexandra Leitão, ex da pasta da Administração Pública, e entram a deputada Isabel Moreira, bem como a ex-líder da bancada, agora ministra, Ana Catarina Mendes.
Além da eleição, a agenda do dia tinha a “análise política” do secretário-geral. E aí Costa seguiu à risca o guião dos últimos dias no Parlamento. Concordou, não sem ironia, com as críticas da oposição: o programa do Governo não responde aos novos problemas “de curto prazo”, porque “fizemos mesmo um programa de Governo para toda a legislatura”. E, por outro lado, o programa é igual ao que o PS apresentou nas eleições porque mau seria “se o PS dissesse uma coisa na campanha e depois fizesse outra no Governo”.
Ainda assim, é mesmo sobre o problema de curto prazo levantado pela guerra na Ucrânia que gira a atuação do executivo nas próximas semanas. António Costa repetiu as medidas apresentadas nos últimos dias, novamente com a tónica “na raiz do problema” do “brutal aumento do custo de vida”. Por isso, destacou as medidas para a agricultura, onde será adotada uma isenção temporária do IVA sobre as rações e fertilizantes, e para outra área, “transversal à vida em sociedade”, que é o preço da energia.
A jogar em casa, com o discurso interrompido pelos aplausos dos militantes, Costa falou da redução do ISP, da proposta de Portugal e Espanha para fixar um limite ao preço do gás, e que tem acolhimento favorável em Bruxelas, ou da proposta de redução do IVA dos combustíveis de 23% para 13%, à espera de aprovação da União Europeia. E recuperou o Orçamento do Estado, que vai ser apresentado para a semana. Ou, como lembrou, “reapresentado”.
O documento é igual ao que levou à queda do Governo e às eleições que deram ao PS uma maioria absoluta. É também por isso que o primeiro-ministro abre o sorriso sempre que repete esta ideia: “é o Orçamento do Estado que as oposições chumbaram e os portugueses aprovaram”.