Política

Em quatro verbos, Marcelo pediu uma vida nova, uma página diferente e um Governo estável. E avisou: “Estou presente, mais do que nunca”

Novamente curta, a mensagem de Ano Novo do Presidente da República centrou-se num pedido de estabilidade e de “previsibilidade” para “virar a página” da pandemia. Marcelo lembrou o falhanço das previsões (afinal, 2021 não foi ano de recomeço, mas “apenas um esboço”), garantiu que estará vigilante. E enunciou quatro verbos: consolidar, apontar, reinventar e reaproximar

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“Tudo no meio de uma pandemia.” Como era inevitável, Marcelo Rebelo de Sousa centrou a habitual mensagem de Ano Novo na situação que o país e o mundo viveram em 2021 que, ao contrário do que se esperava, não foi o ano da libertação, mas “apenas o esboço do recomeço”.

E por causa desse erro de cálculo político, a promessa de libertação da pandemia que afinal não se cumpriu, o Presidente da República avisou que vai estar vigilante e pediu, imperativo: “Este ano de 2022 tem de ser mesmo ‘ano novo, vida nova’”, disse a meio do discurso. No fim, regressou à ideia, “com três palavras: virar a página”.

O professor Marcelo até deu a receita, com quatro verbos que devem acompanhar agora o país, todos debaixo do chapéu da estabilidade política e social que não se cansa de pedir. O primeiro verbo é “consolidar” os percursos para a superação da pandemia. “Estamos encaminhados, mas falta o fim dos fins.” O período entre janeiro e março, até ao fim de mais um inverno marcado pela covid-19, “será crucial”, avisou.

No segundo verbo, o Presidente da República apontou ao mês de janeiro, em que o país volta a ir às urnas escolher a composição do Parlamento, e aos líderes políticos. Marcelo quer uma Assembleia da República que “dê voz ao pluralismo de opiniões e soluções”, mas quer sobretudo uma solução de Governo estável, um “Governo para os próximos quatro anos”. Não só para “refazer as esperanças perdidas” pela pandemia, pela imprevisibilidade de uma solução política que ruiu ao segundo ano de legislatura, como também para garantir “previsibilidade [palavra-chave] para as pessoas e para os seus projetos de vida”.

O discurso foi curto, como todos os outros que fez no dia de Ano Novo — cinco, em seis anos de presidência, já que em 2021 Marcelo acumulava a função de Presidente com a de candidato, e cancelou a mensagem tradicional. Mas teve tempo para elencar as grandes dificuldades do ano — “paragem económica, crise social, descompensação nas pessoas e desgaste nas instituições” — e as vitórias que, ainda assim, se conseguiram — “vacinámos, reabrimos escolas presenciais, pusemos a economia a arrancar, exportámos, recebemos turistas outra vez, tivemos ainda tempo para reeleger por aclamação António Guterres nas Nações Unidas”. E, outra vez, “tudo no meio de uma pandemia”.

Essa pandemia é também causa e consequência dos outros dois verbos que o Presidente da República quis vincar no primeiro discurso do ano. “Reinventar as vidas congeladas, adiadas, trucidadas pela pandemia”, com um sinal à política para que os fundos europeus do PRR (Programa de Recuperação e Resiliência), “que são irrepetíveis”, sejam bem utilizados, “com transparência e rigor”. Num ano que acabou marcado por casos judiciais, como o do banqueiro João Rendeiro ou do ex-ministro Manuel Pinho, Marcelo deixou mais uma mensagem em tom de puxão de orelhas, pedindo que a utilização do dinheiro europeu se faça “combatendo corrupções e os favorecimentos ilícitos”.

O último verbo foi “reaproximar”, numa mensagem final de “solidariedade” para “os mais pobres, os idosos, os portadores de deficiência”, os “emigrantes que partem e regressam e os imigrantes que chegam e partem”. Mas também para as crianças, que, por menos vulneráveis à covid-19, têm “ficado esquecidas”. No fundo, disse Marcelo em tom mais poético, para “todos aqueles que vivem no passeio sem sol na rua da nossa vida comum”, os tais que “vão demorar muito mais tempo a aprender a reviver”.

Marcelo terminou o discurso com as três palavras (“virar a página”), lembrando a página que não se virou em 2021 e deixando um aviso. “Eu estou presente, mais do que nunca.”