Política

“Acabou”. “O CDS morreu”. Depois de Adolfo, Pires de Lima e outros anunciam saída do partido. João Almeida deixa o Parlamento

O anúncio do ex-ministro e histórico militante do partido foi feito esta noite, durante uma entrevista à SIC Notícias. Pires de Lima sai e não recomenda o voto em Francisco Rodrigues dos Santos. Adolfo Mesquita Nunes já tinha anunciado a saída esta manhã. E há mais: Michael Seufert, ex-líder da JP, também bate com a porta, assim como Vânia Dias da Silva, Inês Teotónio Pereira e Manuel Castelo-Branco. João Almeida deixa o Parlamento. Saídas acontecem depois de 'Chicão' ter conseguido adiar o congresso do partido para ir a legislativas sem passar por eleições internas primeiro

FERNANDO VELUDO / NFACTOS exclusivo para EXPRESSO

António Pires de Lima anunciou esta noite a sua intenção de deixar o CDS-PP, uma decisão que diz tomar “com enorme tristeza”, mas que assume, por não ter “condições interiores de continuar a ser militante depois do que aconteceu”. A saída do ex-ministro da Economia acontece depois o Conselho Nacional do CDS ter estado ontem reunido para aprovar o adiamento do congresso eletivo do partido, que devia realizar-se no final de novembro.

"Face ao que aconteceu no CDS nas últimas 48 horas, tenho o dever perante mim próprio de recuperar a liberdade interior que só posso ter enquanto independente, para votar ou recomendar votar em quem eu entender nas próximas eleições legislativas", disse Pires de Lima na SIC, sublinhando que não está em "condições de recomendar o voto em Francisco Rodrigues dos Santos a ninguém que conheça".

Afirmando que quer explicar aos militantes a decisão, Pires de Lima diz que deixará de ser militante do partido a partir de amanhã. "Assisto com muita tristeza [ao que se passou no Conselho Nacional de sexta-feira], mas não me surpreendo”, disse, afirmando que "nos últimos dois anos fomos assistindo a um processo de degradação democrática no interior do partido" e decretando que o CDS "bateu no fundo". "É o fim da linha".

Antes de Pires de Lima, já Adolfo Mesquita Nunes tinha anunciado o mesmo no Facebook, explicando que a desfiliação do partido onde militava há 25 anos acontecia mais pela "convicção de que o CDS é hoje, estruturalmente, um partido distinto" daquele em que se filiou, do que apenas por discordar "profundamente" do "rumo seguido pela direção" atual.

Segundo Adolfo Mesquita Nunes, o Conselho Nacional de sexta-feira à noite confirma que "o CDS desistiu, enquanto partido, de discutir e decidir em congresso com que liderança e com que estratégia deve enfrentar as próximas eleições legislativas" e isso foi a gota de água. Ou o "fim da linha", como lhe chamou Pires de Lima.

Além do ex-secretário de Estado do Turismo e do ex-ministro da Economia do governo de Passos e Portas, também Michael Seufert, ex-líder da JP, anunciou a sua desfiliação depois de, nas presidenciais do início do ano, já ter sido mandatário da candidatura de Tiago Mayan Gonçalves, da Iniciativa Liberal. "O CDS ontem acabou mas nem por isso me custa menos tirar as devidas consequências disso", começa por dizer.

"O CDS que eu conheci, morreu. Não porque está liderado pelas pessoas erradas - que está, mas isso é sempre passageiro - mas porque desistiu de si mesmo, dos seus militantes e de ter um projeto para Portugal. Porque face a eleições legislativas que ainda nem estão marcadas se acorbadou de encontrar a clarificação interna e um projeto nacional de que os partidos não podem ter medo sob pena de o deixarem de ser. Quem tem medo de no seu partido ir a votos, não vai convencer mais ninguém", lê-se na publicação no Facebook, onde sublinha que o CDS deixou de ter um caminho a percorrer.

Também nomes como Manuel Castelo-Branco, filho de uma das vítimas das FP-25, Inês Teotónio Pereira, Vânia Dias da Silva, ou João Maria Condeixa fizeram o mesmo. "Isto acabou. É fechar a porta e também me vou embora. Esta semana, depois de mais de 10 anos da liderança e uns 15 de filiação, assumo a minha orfandade ao projeto e apresentarei o meu pedido de desfiliação desta organização", escreveu Manuel Castelo-Branco.

Já a ex-deputada Inês Teotónio Pereira justificou a saída com a "humilhação" a que o partido foi sujeito. "Todos aqueles que votaram nesta direção deviam hoje pedir desculpa aos militantes do CDS e aos seus apoiantes pela humilhação a que sujeitaram o partido. Pelo menos aqueles que têm um mínimo de decência. O CDS não é o mesmo partido que sempre foi - está mais perto do PCTP-MRPP - e eu não pertenço ali. Por isso, e ao fim de décadas de militância, desfilio-me hoje com enorme tristeza", escreveu numa publicação no Facebook.

E o ex-dirigente João Maria Condeixa partilhou nas redes sociais a carta que endereçou à secretaria-geral do partido a pedir a desfiliação: "O futuro do país não está aqui. O futuro das ideias do centro-direita não está aqui. O futuro até pode estar em muitas das pessoas que trilharam e trilham ainda a sua militância. Pode estar em muitas das ideias dessas pessoas. Mas a resposta ao país já não está no CDS que vive em reacção e se alimenta de matéria em decomposição", escreveu.

A ex-deputada Vânia Dias da Silva também comunicou a decisão através de um e-mail enviado à secretaria-geral do partido: "Lamento muito que tenhamos chegado até aqui. Tenho quase 30 anos de militância e nunca tinha visto nada igual. No mesmo espírito destrutivo que vos move, farei chegar a minha desfiliação logo após a realização do congresso (seja ele qual for, onde for e quando for) que vos eleja", escreveu.

João Almeida deixa o Parlamento

Outro anúncio foi o da saída de João Almeida do Parlamento. Segundo explicou no Facebook, a decisão de não integrar as listas de candidatos a deputados nas próximas legislativas já tinha sido tomada mas a saída acaba por ser anunciada no dia a seguir ao Conselho Nacional que despoletou a debandada.

João Almeida nota ainda que a sua última intervenção no Parlamento foi a intervenção que fez no debate do OE 2022, na última quarta-feira. O segundo na lista de deputados pelo círculo de Aveiro é António Carlos Monteiro, atual vice de 'Chicão', podendo tomar posse enquanto a AR não for dissolvida pelo Presidente da República.

"O CDS hoje abdicou de fazer parte desse processo. Preferiu dar razão e força ao oportunismo de Costa. Desistindo de discutir programa, estratégia e liderança em congresso, o CDS manterá a circunstância que levou Costa a querer eleições, a fraqueza das lideranças à direita. O CDS pensou pequenino e decidiu mal. Fica à espera da esmola do PSD ou condenado à irrelevância. Uma tristeza. Já tinha decidido e anunciado que não integraria as listas nas próximas eleições e que o meu percurso parlamentar estava encerrado. Gostava de sair e ver o CDS crescer, a direita a afirmar-se e de ter orgulho em quem me substituísse. Temo que não seja possível. Infelizmente, o actual CDS não tem nada a ver com o que me trouxe à política. Falta ética, falta carácter e falta substância. (Só faço esta declaração aqui porque me impediram de discutir a situação do partido em congresso, como desejava)", escreveu naquela rede social.