"É em nome da liberdade que me desfilio", Assim termina o longo texto de Adolfo Mesquita Nunes, ex-secretário de Estado do Turismo - e uma das caras da oposição interna a Francisco Rodrigues dos Santos no CDS -, em que anuncia a desfiliação do partido, na sua conta pessoal do Facebook. "O partido em que me filiei deixou de existir", escreveu o advogado este sábado, representante da ala mais liberal do partido (Francisco Mendes da Silva também já tinha saído) e um dos quadros mais proeminentes formados no tempo das lideranças de Paulo Portas, visto nos últimos anos como hipótese à liderança.
"Nunca pensei pedir a desfiliação do partido em que milito há 25 anos, a quem tanto devo e a quem entreguei boa parte da minha vida, do meu empenho e do meu entusiasmo", diz Adolfo Mesquita Nunes, que abandona o CDS na sequência do Conselho Nacional em que o partido decidiu adiar o congresso eletivo para depois das legislativas, permitindo assim a Rodrigues dos Santos ir às eleições gerais sem disputar internamente a liderança com Nuno Melo. "E se o faço hoje, no que provavelmente é o mais difícil acto político da minha vida, é porque o partido em que me filiei, o CDS das liberdades, deixou de existir."
Mesquita Nunes fundamenta a desfiliação "na convicção de que o CDS é hoje, estruturalmente, um partido distinto" daquele em que se filiou, por se ter afastado do modelo de partido que serviu como dirigente.
Considerando o seu primeiro valor como a liberdade, o ex-deputado escreve: "É em nome da liberdade que me desfilio". E aponta a reunião "ilegal" de sexta-feira como a gota de água: "Como é possível que o CDS aceite que uma direcção retire aos militantes o direito de escolher o seu líder e a sua estratégia; e que o faça num Conselho Nacional ilegalmente convocado e ignorando as decisões do órgão jurisdicional do partido; e ainda para mais para manter uma direcção cujo mandato termina em janeiro?"
O antigo braço direito de Assunção Cristas explica que o Conselho Nacional desta sexta-feira fez com que o CDS desistisse "de discutir e decidir em Congresso com que liderança e com que estratégia deve enfrentar as próximas eleições legislativas". Mesquita Nunes viu isso como "a confirmação de que o partido deixou de existir, com pensamento e estratégia autónoma, aceitando com entusiasmo o caminho para a irrelevância, dependendo da bondade e caridade de terceiros", presumivelmente, o PSD.
"A liberdade é vista como algo de relativo, que deve sucumbir em nome de uma messiânica ideia do que é ser do CDS", aponta o antigo dirigente, argumentando com uma alegada falta de liberdade interna e ausência de diversidade: "Nunca me imaginei em discussões sobre se alguém do CDS pode não gostar de touradas, se pode ser vegetariano, se pode divorciar-se, se pode amar quem quiser, se pode não ser crente. Mas essas discussões vieram para ficar e dão bem conta das novas prioridades do partido".
No fundo, Mesquita Nunes acusa a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos de estar a criar um partido mais conservador, mas monolítico, com "dedo acusador" e com uma "suposta pureza cristã": "Abre-se a porta, sem pudor, a quem se atreve a divergir, a quem ousa dizer coisas que qualquer partido de direita europeu encara com naturalidade. Diz-se, com convicção, que há muitos de nós que não devemos estar aqui, que temos de ir embora".
Considerando que há um "afunilamento" no partido que resulta de uma tendência "maioritária" e que o CDS se transformou "noutra coisa", Mesquita Nunes diz que sai porque a tendência se tornou "irreversível".