Política

O Papa. Um pato. As tintas Robialac: as referências estranhas da Convenção do BE

Nas longas horas de discursos em Matosinhos, houve referências pouco habituais num encontro de esquerda

Um pavilhão semi-vazio e um arranque morno da XII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda
Rui Duarte Silva

Nem só de grandes referências políticas e ideológicas vive um Convenção do Bloco de Esquerda. Nas longas horas de discursos, houve lugar para as guerras do pós-geringonça, para discussões entre fações estalinistas ou trotskistas do partido. Mas houve também referências pouco habituais num encontro de esquerda. Um pato, o Papa, as tintas robialac ou mesmo os Monty Phyton foram alguns dos casos registados pelo Expresso.

Papa Francisco

Marisa Matias deu o pontapé de saída. Na sessão preparatória da Convenção e com poucos delegados na sala do pavilhão gimnodesportivo de Matosinhos, a eurodeputada atacou o Governo e a União Europeia a propósito do não-levantamento das patentes das vacinas anti-covid. E quando a eurodeputada assumia que "a Europa está cada vez mais isolada" e que "é apenas uma questão de tempo" para o fim das patentes, citou "a pressão dos povos, dos países e das populações sobre uma dúzia de privilegiados" que são os grandes laboratórios farmacêuticos. E juntou à causa "o próprio Papa". E, assim, Francisco entrou na Convenção do Bloco de Esquerda sem mesmo ser convidado.

Um pato

Vitor Gomes é militante de base e defensor de uma das moções à Convenção. A lista de que é subscritor - e que tem a letra Q - assume a sua oposição frontal, tanto à direção como à própria linha seguida de apoio à geringonça. Os nove delegados eleitos para estarem em Matosinhos não alimentam quaisquer ilusões de chegar aos postos de comando e já anunciaram que não se candidatarão a nenhum lugar da Mesa Nacional (o orgão dirigente eleito em congresso). Vitor Gomes foi o primeiro a defender a moção Q. Chega ao microfone e começa o seu discurso de forma original: "não sou um pato, quá-quá". E lá continuou a intervenção.

Tinta Robbialac

Já foi muita coisa: militar de abril, dirigente da UDP e deputado na Assembleia da República. Está no Bloco desde o primeiro dia e o 'posto' de Major ficou-lhe na pele, quer tenha, ou não, mudado de patente na sua carreira militar. Mário Tomé é sempre um dos intervenientes das Convenções do Bloco e, como não podia deixar de ser, foi um dos oradores do primeiro dia dos trabalhos. Entre farpas políticas e ataques ao grande capital, fez uma surpreendente referência às 'tintas Robbialac'. Publicidade à parte, o bloquista não quis promover nenhuma marca, mas tentar denunciar os grandes empresários que mudavam a cor da exploração dos trabalhadores