Política

Açores. "Ter de" não é "gostar de". Marcelo avisa que apoio do Chega terá "um preço" para o PSD

"Ter de" não é "gostar de". Marcelo socorre-se de Cavaco para justificar porque aceitou Governo com Chega nos Açores. Mas deixa avisos a Rio: "Na vida não há só vantagens, há também preços quer a nível regional quer nacional"

TIAGO PETINGA / Lusa

O Presidente da República está desconfortável com o assunto Açores e diz aceitou constitucionalmente a solução de governo, mas não gostou politicamente. Em declarações aos jornalistas esta sexta-feira, antes de um encontro com representantes do setor da restauração, Marcelo Rebelo de Sousa esteve longamente a justificar a decisão de aceitar o novo Governo PSD/CDS/PPM com o apoio da Iniciativa Liberal e do Chega nos Açores.

Para Marcelo, esta era a única via "constitucional" (apesar de não o ser, tal como explicado aqui pelo Expresso) e por isso entrou em cena o dever, mais do que o apreço pela solução. Para o fazer recorreu ao exemplo de Cavaco Silva, aquando da formação do governo da "geringonça": "Uma coisa é o 'ter de' e outra o 'gostar disso'. Imagino que o Presidente Cavaco Silva, por razões muito diferentes ou perspetiva diferente, quando formou o governo que formou, provavelmente não gostou. É exatamente o que eu penso sobre os Açores", disse. Há no entanto uma diferença: Cavaco Silva chamou primeiro o partido mais votado, o governo formou-se e depois caiu. Só chamado depois o PS de António Costa para a tarefa.

O Expresso dá conta na edição desta semana (já nas bancas) que o Presidente da República concordou com a solução para os Açores. Marcelo confirma que concordou em termos legais, que formalmente é tomada pelo Representante da República Pedro Catarino, mas que não concorda em termos políticos: "Para quem como eu tem tido um mandato preocupado com o fazer pontes, o reforçar a moderação, o aceitar como boa alternativa e evitar a radicalização, não é uma solução ideal aquela que significa uma coisa diferente do que é o sentido do mandato", afirmou.

Foi esta a linha de defesa que tomou esta manhã. Contudo, lembrando que tem ao longo do mandato optado pela moderação e falado bastante dos populismos e dos riscos dos partidos anti-sistémicos, deixou o aviso a Rui Rio de que não há só um lado bom - o de ganhar o poder nos Açores -, mas que pagará um preço também a nível nacional. "É uma opção dos partidos, quando tomam essas opções têm vantagens, têm riscos e têm preços. Na vida não há só vantagens há também preços, quer a nível regional quer nacional", disse.

A Constituição foi sempre o alfa e o ómega do Presidente da República nestas declarações para dizer que não tinha alternativa: "Não tinha de concordar ou discordar [politicamente]. Constitucionalmente era a solução que decorria do funcionamento das instituições. Era uma escolha dos partidos, estratégia dos partidos e não tinha de concordar politicamente com a solução", afirmou. Ainda no plano constitucional, diz ter tido conhecimento dos acordos e não encontrou "nada que fosse contra a Constituição".

Na conversa com os jornalistas, o Presidente da República elogiou a "transição pacífica e civilizada" entre Vasco Cordeiro e José Manuel Bolieiro e reforçou por várias vezes o papel de Pedro Catarino: "O Representante da República respeitou a Constituição, que permite que o partido que forma Governo seja não o mais votado, mas o que forma maioria parlamentar, dado que todos os partidos com assento têm o mesmo direito de voto, o mesmo direito de viabilizar governos", insistiu. Por isso. "constitucionalmente não há nada a apontar".