As negociações entre o Governo e o Bloco de Esquerda, em quase todos os Orçamentos do Estado da 'geringonça', foram sempre tensas. Algumas com momentos de negociação em praça pública, mas nenhuma como a deste ano: durante as últimas semanas, intervenientes dos dois lados vieram mostrar ao público os passos que deram para um acordo numa guerra que já leva várias batalhas. O objetivo é só um: o público que decida quem fica com a culpa pelo divórcio. Ainda este domingo começou a batalha mais importante, que se desenrola esta semana com a discussão do Orçamento do Estado no Parlamento, terça e quarta-feira. Ainda antes de Catarina Martins anunciar o voto contra o Orçamento do Estado, o Governo enviou num documento de resposta às últimas dúvidas do antigo parceiro, numa tentativa de travar o que era inevitável: a oposição do BE, por unanimidade, ao Orçamento do Estado tal como está.
O BE diz que o voto contra não implica que não queira continuar a negociar para que nas votações em detalhe, artigo a artigo, e depois na votação final global, que encerra o processo orçamental, mude o sentido de voto e viabilize o documento, juntamente com PCP, PAN e as duas deputadas não inscritas, Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues, que já disseram que irão viabilizar via abstenção. Os Verdes só anunciam terça-feira.
Do lado do Governo, a posição do BE é "incompreensível" e não encontram caminho para continuar a conversa: se o BE votou contra, é porque não quer mais negociar, disse esta segunda-feira de manhã Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Questionado sobre se há mais negociações com o BE, o governante respondeu: "A posição do BE é de quem sai do processo de negociação, de quem se afasta. Não temos mais informação do que a declaração" da líder do BE.
Depois da questão política, atiram-se às palavras de Catarina Martins. "O Governo considera incompreensível que quando o país mais precisa não possa contar com o BE para aprovar um orçamento que protege as pessoas. É incompreensível que um orçamento com respostas de esquerda não seja viabilizado pelo BE", disse o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, numa conferência de imprensa específica para responder à posição do BE. Para o Governo, o BE decidiu "deixar de fazer parte da solução" que desde 2015 formou a maioria de esquerda. "Lamentamos que apesar das aproximações e disponibilidades se tenham afastado do processo", disse.