No princípio era o défice. E também a dívida. Pelo meio o estímulo orçamental, mas com conta, peso e medida, para não prejudicar as contas do futuro próximo. Tudo misturado na liquidificadora de João Leão, saiu um Orçamento que não deixa de olhar para o controlo das contas públicas como alfa e ómega ao mesmo tempo que apregoa estímulos à economia e investimento público sem precedentes (mas temporários). Uma posição estratégica do Governo, que joga sobretudo com medidas extraordinárias, que encalha nas pretensões e na visão da esquerda, que pede medidas mais estruturais. Ponto a notar: apesar do controlo apertado, o défice do próximo ano seria mais elevado se não caísse nas contas do Estado em 2021 um jackpot único de mais de mil milhões de euros de juros pagos no tempo da troika.
Do lado estrutural, a despesa permanente sobe além das despesas sociais, mas estas contêm medidas de grande impacto de natureza extraordinária, como a nova prestação social, que pode, no seu novo desenho, chegar aos 600 milhões de euros, apurou o Expresso. O jogo de Leão, mesmo nas conversas à esquerda, passa por aqui: aceita mexer no que é extraordinário, com cuidado, pouco no que é estrutural, para quando chegar o momento de voltar às regras do Procedimento por Défices Excessivos, Portugal ter menos dificuldades em encaixar-se. É essa a mensagem que tem passado a investidores e fundos de investimento, em longas chamadas do seu secretário de Estado das Finanças, João Nuno Mendes. À esquerda, não há dúvidas, Mário Centeno saiu das Finanças, mas os orçamentos continuam a ser a regra e esquadro, a pensar no défice.