No dia em que o Orçamento do Estado é aprovado em Conselho de Ministros, e em que se mantém a incógnita sobre a posição da esquerda na votação do documento, o PCP deixa avisos. Em entrevista ao “Jornal do Avante!”, o órgão oficial do partido, Jerónimo de Sousa frisa que os comunistas não desperdiçam oportunidades de intervir na decisão política mas alerta: com a geringonça, o PCP aprendeu que para resolver problemas de fundo as “opções de classe do PS e do seu Governo” não servem.
Depois de nas Teses, o documento de reflexão política que o PCP prepara antes de cada congresso, ter feito um virar de página no que toca aos anos de acordo com PS, o partido explica a sua posição. Desse período inédito na política portuguesa, Jerónimo conclui que a “luta” valeu a pena e que a recuperação de direitos e rendimentos são “condição de crescimento”... mas também que “as soluções para os problemas de fundo para o país” exigem uma política “ em ruptura com a política de direita e liberta das opções de classe do PS e do seu Governo”.
Numa altura em que os comunistas estão de regresso à mesa das negociações com o Governo mas não abrem o jogo sobre o andamento das conversas, Jerónimo explica a estratégia do PCP. O partido quer manter uma “elevada iniciativa política”, “aproveitando todos os espaços de decisão e todas oportunidades para o garantir”. Ou seja, não desiste à partida de nenhuma negociação, Orçamento do Estado incluído.
Outra coisa, como já se frisava nas teses, é o momento político que se vive e que já não dá a uma solução como a geringonça ‘pernas para andar’: “No quadro da correlação de forças alterada pelas últimas eleições”, que tirou representação ao PCP e reforçou o PS, é preciso “elevar para outros patamares a luta dos trabalhadores e das populações”. Isto enquanto o PCP tenta garantir que, mesmo tendo registado perdas eleitorais nos tempos de geringonça, amplia a sua “influência política, social e eleitoral”.
O contexto, como os comunistas têm reforçado, é hostil: além dos resultados nas urnas, o PCP identifica uma “grande ofensiva ideológica reacionária” que aconteceu numa fase política “contraditória e complexa” - a da geringonça - “onde fervilhava a permanente intriga e deturpação dos nossos próprios objetivos”. Mesmo perante esses obstáculos, defende Jerónimo, o PCP manteve-se “unido na ação”, com grande firmeza ideológica e até “flexibilidade tática”. Mas isso era quando havia acordo com o PS. Agora, os tempos são outros.