Política

Paulo Portas: “Governar para os likes está muito na moda”

Com Pedro Passos Coelho na assistência, Paulo Portas falou da tensão entre a China e os Estados Unidos, dos riscos da desagregação da Europa e da demissão do centro-moderado. “A maior fábrica de trumpistas é o politicamente correto”

Regra número um: não falar sobre a política portuguesa. Regra número dois: falar sobre política portuguesa sem parecer que está a falar sobre a política portuguesa. Desde que deixou a liderança do CDS, Paulo Portas tem-se esforçado por cumprir simultaneamente estas duas regras. Esta quarta-feira, no arranque do segundo dia da convenção organizada pelo Movimento Europa e Liberdade (MEL), na Culturgest, em Lisboa, não foi diferente: depois de dissertar durante largos minutos sobre geopolítica, o democrata-cristão reservou a parte final do seu discurso para notar que os governantes perderam “o sentido de longo prazo” e estão hoje condenados a “administrar o urgente”, quando deviam estar a cuidar do “essencial”. Com uma agravante: vivem para o “like”.

A crítica tinha adesão à realidade portuguesa, até porque Paulo Portas tinha desenhado todo o raciocínio a partir de uma conversa que teve, algures, com o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, revelada pelo próprio. Então, e com o antigo primeiro-ministro na audiência, Portas deixou um aviso: “Governar para os likes está muito na moda. Mas governar às vezes gera likes, outras vezes não”.

Antes, Paulo Portas tinha-se focado quase exclusivamente nas tensões entre os Estados Unidos e a China e em como a Europa, incapaz de seguir um rumo conjunto, se está a deixar ultrapassar em quase todas os domínios relevantes para a economia mundial, como no caso da investigação científica e desenvolvimento. “A Europa tende achar que está certa e o Mundo é que não. Se a Europa se desagregar torna-se irrelevante”, disse.

“A maior fábrica de trumpistas é o politicamente correto”

Mas é a falta de uma política de migração comum que mais preocupa Paulo Portas. Para o democrata-cristão, os líderes europeus do centro moderado demitiram-se de encontrar um discurso e uma estratégia para a migração. “A Europa ou escolhe a emigração que quer e precisa ou é escolhida. Temos de ter a política de migração que que nos convém e dignifique sem deixar que sejam terceiros, sejam eles redes de tráfico ou líderes chantagistas, que a definam”, argumentou.

Para Portas, aliás, têm de ser os líderes do centro moderado a assumir essa batalha, sem medo do “politicamente correto”, impondo a quem queira entrar na Europa a necessidade de aceitar os valores europeus e sem deixar que os “extremistas”, de um ou do outro lado, capturem o discurso sobre migração.

“É para nós indiferente a visão [que os migrantes tenham] do papel da mulher? Ou se o púlpito religioso possa ser usado para promover a violência? Não há fátuas na Europa, nem pode haver. Vir para a Europa implica aceitação destes valores”, insistiu, antes de reforçar: “A maior fábrica de trumpistas é o politicamente correto. Quem são estes reitores morais?”.