Paulo Mota Pinto, presidente da Mesa do Congresso e o homem escolhido por Rui Rio para representar os sociais-democratas na convenção organizada pelo Movimento Europa e Liberdade (MEL), não tem dúvidas: mais cedo do que tarde o PSD será chamado a assumir responsabilidades governativas e, então, “liderará uma alternativa à direita da governação socialista”.
Não é exatamente uma novidade estratégica, apesar de Rui Rio (e Paulo Mota Pinto fê-lo também esta terça-feira) ter defendido sempre que o espaço natural do PSD é ao centro. Já no Congresso do PSD, em fevereiro, o líder social-democrata tinha sido claro: “Uma coisa é o PSD conseguir ser o líder de uma opção à direita da maioria de esquerda que nos tem governado, outra, completamente diferente, é sermos, nós próprios a direita”.
O caminho até lá, reforçou hoje Paulo Mota Pinto, faz-se em estradas separadas. Com uma subtileza interessante. Depois de Francisco Rodrigues dos Santos ter pedido, de manhã, um líder de centro-direita “agregador” e uma “proposta de compromissos [comum à direita] que ofereça aos portugueses uma solução de Governo”, o social-democrata ofereceu outro plano estratégico: a direita não está “à procura de um chefe”, nem se coloca o “problema” da falta de “unidade” nesse espaço político; “a convergência acontecerá se e quando necessário”, sintetizou Mota Pinto.
Mais: aos olhos dos sociais-democratas, esse crescimento só é possível ao centro, com “credibilidade” e “sem rupturas” que “assustem” esse eleitorado. O contraste é evidente: de manhã, Rodrigues dos Santos prometeu um CDS como a “primavera da direita”; no final da tarde, Mota Pinto respondeu com uma manifesta rejeição de qualquer programa que represente a rutura. No que depender de Rui Rio, os dois, PSD e CDS, encontrar-se-ão se daí resultar uma maioria parlamentar de direita; mas um e o outro têm de crescer sozinhos, ao centro e à direita.
“Os portugueses não aceitarão alibis”
Sem referir diretamente os efeitos que a epidemia do novo Coronavirus pode trazer à economia portuguesa e à estabilidade governativa, Mota Pinto não deixou de argumentar que a principal alavanca da economia portuguesa se deveu a “setores de menor valor acrescentado, como o turismo, hotelaria e restauração”, os primeiros a sofrerem com uma eventual recessão. Mas foi à boleia dessa ameaça implícita que o social-democrata deixou uma aviso: “Os portugueses não aceitarão alibis nem manobras de diversão”.
A leitura é simples: se as contas de Mário Centeno não resistirem a uma eventual crise financeira, o PSD apontará o dedo ao Governo socialista, responsável, argumentam, por um programa que nunca alimentou um crescimento sustentado ou sustentável.
O mesmo vale para uma eventual crise política, alertou. “O PS tem-se dedicado a queimar pontes”, sublinhou Mota Pinto, dando como exemplo a questão da Lei de Bases da Saúde, aprovada a muito custo à esquerda, do novo regime das Parcerias Público-Privadas (PPP), chumbado à esquerda e à direita, ou o imbróglio com o novo aeroporto do Montijo. “É o PS que tem de governar, como corretamente chamou atenção Marcelo Rebelo de Sousa. Não deve procurar desculpas, portas traseiras ou manobras de diversão. Era o que mais faltava que o PS pretendesse agora que, em cada questão pontual, o PSD tenha obrigação de ir a correr socorrê-lo”.
Antecipando nova tentativa de dramatização, e referindo-se à fase final do governo de José Sócrates, o dirigente social-democrata insistiu: “Não devemos permitir esta nova fuga às responsabilidades”. Até porque a oportunidade de ir a votos em novas legislativas chegará mais rapidamente do que “alguns auguravam”, rematou.