Política

Costa pede à esquerda: “Por favor, não nos ponham a cumprir o programa dos outros”

Primeiro-ministro avisa oposição contra coligações negativas no Orçamento. E sublinha que foi o conservadorismo nas previsões que permitiu desmentir as previsões catastrofistas: “Até o diabo do dr Passos Coelho, que fomos desmentindo ano a ano”

NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

António Costa encerrou as jornadas parlamentares do PS com um aviso para as outras bancadas, as da oposição: se o PS não quer mudar o programa dos outros, disse, “por favor, não nos ponham a cumprir o programa dos outros e a trair o nosso compromisso com os portugueses”. O alerta tinha em vista a fase final de discussão do Orçamento e a hipótese de haver uma conjugação de votos entre partidos da oposição, que imponha medidas não desejadas pelo Governo. O exemplo apontado por Costa foi, uma vez mais, o da descida do IVA da energia, intenção de une PSD, Bloco e PCP.

No discurso feito em Setúbal, Costa atacou sobretudo a proposta do PSD. Primeiro pelo argumento legal (de que a Comissão Europeia não permite descer o IVA apenas para consumo): “Como toda a gente sabe menos o PSD, não há um IVA para uns e um IVA para outros”. Mas também pelo argumento político, onde (sem referir diretamente) a crítica também apanhou Bloco e PCP. O argumento central é o da luta contra as alterações climáticas: “Para reduzir o custo da energia, isso deve ser de modo sustentado”, disse Costa, argumentando que baixar o preço da energia para todos é um incentivo ao maior consumo. O Governo prefere negociar com Bruxelas uma taxa variável, consoante o consumo. E manter uma linha seguida na última legislatura: “Reduzimos o preço 8% nos últimos anos, quando subiu 6% na EU”, disse, elecando medidas com o alargamento da taxa especial para famílias carenciadas.

Para a esquerda ficou mesmo assim uma promessa: “Espírito de diálogo democrático”, ou “postura dialogante”, ou mesmo a ideia de que “há mais vida para além do Orçamento” – ou seja, mais medidas que se podem negociar fora dele.

Mas houve também um pedido: o de permitir ao Governo socialista que mantenha a sua regra de ouro: “Nunca darmos um passo maior do que a perna, darmos sempre um passo seguro”, forma de contrariar as previsões negativas feitas no passado. “Até o diabo do dr Passos Coelho, que fomos desmentindo ano a ano”, concluiu, sublinhando ter feito “bem as contas” e ter sido conservador nas previsões”. “Esse será o bom critério da governação ao longo da legislatura. Por termos mudado de quadro político não vamos ter a irresponsabilidade que soubemos não ter”.