Se o Governo quer mesmo o voto dos três deputados do PSD/Madeira no Orçamento do Estado, o ministro das Finanças não se esforçou muito na tarde desta quarta-feira, no Funchal, para garantir as boas graças do Presidente do Governo Regional. Mário Centeno, que apesar do mau tempo aterrou na Madeira para discursar no congresso das "500 maiores" empresas, tinha um encontro marcado num hotel do Funchal com Miguel Albuquerque, que também é líder do PSD regional, mas atrasou-se. O encontro, que esteve marcado para as 16h45, foi dado como cancelado pela parte do Governo Regional. Mas acabou por se realizar entre as 17h20 e as 17h25 já no hall do centro de congressos.
Segundo apurou o Expresso, caiu mal a Miguel Albuquerque ter ficado à espera de Mário Centeno quando este estaria alegadamente a passear na baixa do Funchal com deputados do PS. No entanto, depois de ter sido dito aos jornalistas que não haveria reunião, os dois responsáveis políticos acabaram por se sentar num encontro relâmpago para uma conversa que durou cerca de cinco minutos sobre o Orçamento do Estado. A seguir ao encontro, não houve declarações à comunicação social.
O voto dos três deputados do PSD eleitos pelo arquipélago ainda não estava decidido esta terça-feira, mas até este incidente as negociações estriam a correr bem. A abstenção, pelo menos, parecia assegurada, como o Expresso avançou ontem.
Até à reunião rápida com Centeno, havia a ideia, no executivo regional, de que neste momento não seria justo votar contra um orçamento que clarifica o papel do Estado na construção do novo hospital central do Funchal. Desta vez, é assumido que a República assume metade do custo da obra e dos equipamentos – metade de 265 milhões de euros mais o IVA – e garante um aval ao empréstimo que a região fizer para suportar a parte de cabe à Madeira pagar.
Esta teria sido, como o Expresso já noticiou, a grande conquista das negociações entre o governo de Albuquerque e o executivo de António Costa. O ambiente era de colaboração, e tudo parecia bem encaminhado para se indexar a taxa de juros que a Madeira paga à taxa média dos empréstimos do Estado - mas o governo regional não vai fazer de conta que em cima da mesa e ainda sem resposta estão os subsídios para a mobilidade aérea e para uma ligação marítima entre Lisboa e o Funchal. Resta saber se foi este o tema da conversa rápida entre Albuquerque e Centeno.
A revisão ao subsídio de mobilidade – que de momento custa 45 milhões de euros ao Orçamento de Estado – foi adiada para 2021. Ou seja, só nessa altura será possível pagar apenas 86 euros por uma viagem de avião entre a Madeira e o continente sem necessidade de adiantar a totalidade do preço do bilhete. Sobre a ligação marítima, não existe uma linha no Orçamento do Estado. O governo regional admite que as exigências são para a legislatura, que este é o primeiro orçamento, mas não esquece que, no calor da campanha eleitoral, estes dois temas foram promessas dos socialistas. E, por isso, cabe ao primeiro ministro explicar as razões para novo adiamento.
A decisão sobre o voto dos três deputados do PSD-Madeira não está tomada e onte, como o Expresso escreveu, tudo parecia indicar que Sara Madruga da Costa, Sérgio Marques e Paulo Neves deveriam abster-se. A última palavra cabe a Miguel Albuquerque. Depois deste incidente protocolar, manter-se-á a boa vontade?