Ser ou não ser

Afonso Mendonça Reis: “Na educação, neste momento, deixava a pedagogia e cortava na burocracia”

Acredita que uma educação de qualidade na infância faz a diferença. Portugal devia investir mais nesta faixa etária, mas foi nos jovens que Afonso Mendonça Reis apostou todas as fichas ao fundar a Mentes Empreendedoras. Um projeto que pretende ajudar a criar cidadãos de impacto, líderes capazes de se transformarem a si próprios e à comunidade. Oiça a conversa no podcast Ser ou Não Ser

Criado em 2010, o projeto Mentes Empreendedoras — que era para se chamar Mentes Fazedoras, mas Afonso Mendonça Reis, o fundador, considerou que soava “esquisito” - tem como objetivo promover uma geração de cidadãos de impacto, líderes capazes de se transformarem a si próprios e à sua comunidade. Trata-se de uma organização privada sem fins lucrativos que atua na área da educação e do empreendedorismo social, cuja missão é criar uma geração de cidadão proativos, resilientes e com trabalho na comunidade.

E como o fazem? Mediante um processo de educação não formal e experiências de superação pela metodologia de projetos que desafiam os alunos do secundário a implementar ideias próprias: “Sem cenourinhas, sem ser como os galgos que andam a correr por ali, mas trabalhando a sua motivação intrínseca. A visualizarem-se a serem capazes de fazer coisas.”

A proposta passa por, através de clubes Mentes Empreendedoras criados nas escolas, gerar um ciclo virtuoso que ativa o potencial impacto social dos jovens, tornando-os referências inspiradoras na sua comunidade. Desde 2015, que sentem a vontade e a necessidade de incluir no seu compromisso com a sociedade a valorização docente por parte dos alunos e da própria comunidade, através do "Inspira o teu Professor" e acolhendo a iniciativa internacional, conhecida como o Nobel da educação, o "Global Teacher Prize Portugal", que reconhece o melhor professor do país.

O projeto Mentes Empreendedoras promove ainda o "Leadership Fellows", um programa para jovens universitários, profissionais e jovens executivos com espírito de agente de mudança, em que, após uma formação, partem para o terreno onde acompanham um Clube Mentes Empreendedoras, apoiando os alunos do ensino secundário a implementar as suas ideias e a desenvolver os seus projetos. O "Leaders gang" é outro projeto que está no terreno com o mote de que todos podemos ir até onde conseguirmos sonhar. Ninguém deve ser limitado pelas circunstâncias ou pelo ponto de partida, ou seja, por ter uma condição socioeconómica menos favorável.


Nuno Fox


Afonso Mendonça Reis conta que teve de introduzir uma nova dinâmica focada na empatia — que não era uma preocupação no início, mas verificaram que em alguns casos apesar de não haver conflitos, os jovens quando iam para o recreio ficavam a ver o telemóvel e não interagiam uns com os outros. “Nós tivemos o privilégio de crescer num mundo sem internet. Ela apareceu na nossa vida cedo o suficiente para tirarmos partido dela, mas conseguimos mantê-la à distância.” Esta nova geração é diferente, por isso, este foi um dos novos desafios das Mentes Empreendedoras.

Talvez por ter trabalhado na Fundação Aga Khan, onde teve contacto com a área de educação infantil, destaca que o PRR deveria investir mais nesta vertente, uma vez que há estudos que provam que dois ou três anos de acesso a educação de qualidade na infância faz a diferença. “Por isso é que a Califórnia faz um investimento gigantesco no Head Start [um programa federal dirigido a crianças provenientes de famílias com baixos rendimentos]. Portugal devia investir em creches, garantir a sua qualidade e um rácio educadores-crianças suficiente”, diz, contando que criaram uma menção honrosa para os educadores de infância no Global Teacher Prize.

Ainda no tema da educação, o fundador da Mentes Empreendedoras diz que é fundamental fixar os professores e estabilizar a carreira docente, mas garante que o que sente na interação com as escolas é a quantidade de procedimentos completamente loucos, que comem tempo a uma estrutura subdimensionada de gestão das escolas, por isso diz: “Atualmente, na educação, deixava a pedagogia e cortava na burocracia!”


Capa Ser ou Não Ser 3x2
Mário Henriques