Em 2022, as cinco maiores petrolíferas do mundo, onde a BP se inclui, apresentaram lucros de 150 mil milhões de euros, no ano em que a guerra da Ucrânia fez disparar os preços do petróleo. A líder da petrolífera portuguesa assume que dificilmente as energias verdes chegarão a lucros tão elevados como as fósseis devido à cadeia de valor sedimentada. “Tem anos e anos e anos. Há aqui níveis de otimização que neste momento não podem ser vistos da mesma maneira”. Para Sílvia Barata o lucro não é um entrave, é uma oportunidade. “A transição energética obriga a um investimento massivo. Muito desse investimento com alguma incerteza e com retornos mais baixos, mais tardios.”
Na sua opinião, o sistema energético que temos deve ser reaproveitado para que o custo da mudança seja o menor possível para o consumidor, “porque tudo o que se fizer será depois suportado de alguma maneira pela sociedade”. E admite que a transição energética levará o seu tempo. “Vai fazer-se em anos. Não pensem que todas as energias se vão materializar no mesmo momento. Não vão! Ou porque a legislação e a regulamentação ainda não está bem classificada, — as empresas têm algum receio, ou porque há outras energias que estão mais desenvolvidas tecnologicamente para poderem avançar primeiro”. Para a presidente da BP Portugal, os combustíveis fósseis vão fazer parte desse conceito. “Não podem ser excluídos na sua totalidade porque existe uma dependência muito grande do mundo e porque existem partes do globo com momentos diferentes de transição”.
Para a responsável, uma parte boa desta transição energética é possibilitar ao cliente uma escolha mais diversificada. “Um cabaz energético para os clientes e para as empresas, algo que estava muito monopolizado pelos combustíveis fósseis”.
Sílvia Barata concretizou o sonho de ser presidente da BP apesar de ter herdado também uma batata quente. Porém, afirma gostar de ouvir algumas críticas mais pesadas, mais estruturais, por parte de pessoas credíveis, que levem os agentes económicos e empresas como a BP, consumidores e governantes a trabalharem na transição. No entanto, é clara: “A transição energética não é apenas passar de um combustível fóssil para uma energia verde ou para outras energias alternativas. Vai requerer de todos nós uma maior eficiência do consumo” e salienta a necessidade de as empresas poderem de facto aceder a novas fontes de energia, mas sem colocar em causa a sua própria sustentabilidade, sob pena “de porem em causa postos de trabalho e a vida das pessoas”.
Fala dos projetos para Portugal e de como o nosso país pode ser um laboratório para testar novos produtos e plataformas digitais. Termina, deixando a porta aberta para ideias inovadoras em termos tecnológicos para o futuro do setor. “Se alguém vier ter comigo com uma boa proposta, sou a primeira a defender os bons interesses de Portugal porque sei que os portugueses sempre darão cartas e na área tecnológica, podemos fazer a diferença. Não prometo nada, mas farei chegar a proposta a quem de direito”.
'Ser ou não ser' é um podcast semanal sobre o mundo da sustentabilidade, da ecologia e da responsabilidade. A cada episódio, mergulhamos em tópicos relevantes, desde práticas individuais até iniciativas globais, com convidados apaixonados por este tema. Damos voz a líderes de empresas, ativistas, empreendedores e especialistas, para partilharem experiências e soluções inovadoras para um futuro mais sustentável. 'Ser ou Não Ser' é um podcast do Expresso SER, com moderação da jornalista Teresa Cotrim e o convidado residente Frederico Fezas Vital, professor e consultor na área da inovação social, impacto e empreendedorismo. A coordenação está a cargo de Pedro Sousa Carvalho.